Apesar de o Zen descartar os deuses, há a imagem de Kanzeon na cozinha, eu passo na
frente do altar e faço gasshô.
Kanzeon representa a virtude da compaixão. Não é
um ser, digamos, mas sim um meio hábil para nós incorporarmos ou
visualizarmos a compaixão como se fosse um ser. E como a compaixão parece uma
virtude feminina, então Kanzeon é representada na China e no Japão como uma
mulher. No Tibet, todavia, é representado como homem, chamado Avalokitesvara, buda da
compaixão.
Eu fiz essas observações todas para entendermos como o budismo
se encaixa na história humana. Ou seja, ele é uma espécie de heresia, uma
espécie de não conformismo com as crenças e a tentativa de olhar o
funcionamento do mundo como uma responsabilidade sua. Você, com suas ações, é que
constrói o chão sobre o qual você caminha. Do outro lado, o budismo vestiu-se
de símbolos, tomando emprestadas mil coisas das culturas por onde passou, de modo
a constituir-se como uma religião.
Pode-se dizer, então, que o Budismo tem todos os aspectos formais de
uma religião, mas quando se analisa suas teses centrais, percebe-se que se trata de uma
ideologia baseada no que ele próprio entende por "leis naturais". Então, o budismo não depende
de fé, mas de experiência.