O conceito de carma é central no budismo?
Monge Genshô: sim, é central. Trata-se de um conceito importante, porque o conceito de carma é
que estamos sempre continuando, que nada cessa, tudo é continuidade. Então, uma
vida é sucedida de outra, e existe coesão cármica, carma individual.
Há todavia, de se fazer uma ressalva. Eu, pessoalmente, não gosto da palavra "renascimento", e muito menos da palavra "reencarnação", porque quer dizer que uma coisa individual nasce num corpo novo,
ganha uma nova carne. E, por causa disso, hoje, em geral, estas são palavras que estão sendo recusadas no budismo, embora
haja muitos textos com essas palavras. Mas, saibamos, isso é um problema de tradução: você pega
a ideia e traduz em uma língua ocidental, usando uma palavra que tem um
significado que não bate com o significado original.
A palavra renascimento faz parecer que alguém nasceu de novo, repetiu o nascimento, como se houvesse uma alma. Então, quando se lê alguns livros que falam sobre o budismo, é frequente entender que o budismo acredita que a alma renasce de tal jeito, etc. Em verdade, tal pensamento é a transferência de um conceito platônico para dentro do budismo, e que não faz sentido, porque, para o budismo, o carma é que gera identidades, não são as identidades que carregam o carma. Você não está carregando um carma de uma vida anterior, você é produto do carma das suas vidas anteriores, você é continuidade do carma. Isso gerou essa manifestação humana, que diz a si mesma: "eu sou isso". Portanto, essa concentração na procura por uma identidade que se manifesta de novo acaba perturbando o budismo.
A palavra renascimento faz parecer que alguém nasceu de novo, repetiu o nascimento, como se houvesse uma alma. Então, quando se lê alguns livros que falam sobre o budismo, é frequente entender que o budismo acredita que a alma renasce de tal jeito, etc. Em verdade, tal pensamento é a transferência de um conceito platônico para dentro do budismo, e que não faz sentido, porque, para o budismo, o carma é que gera identidades, não são as identidades que carregam o carma. Você não está carregando um carma de uma vida anterior, você é produto do carma das suas vidas anteriores, você é continuidade do carma. Isso gerou essa manifestação humana, que diz a si mesma: "eu sou isso". Portanto, essa concentração na procura por uma identidade que se manifesta de novo acaba perturbando o budismo.
Então, conceito de
continuidade é importante no Zen, mas a ideia de que uma individualidade
continua é absurda. Não precisa morrer para perder sua individualidade: basta
uma boa doença, um AVC, um Alzheimer, e você não sabe nem mais quem é. Eu estava falando com
um mestre Zen uma vez, e disse que minha mãe estava com Alzheimer, e que estava se esquecendo
de tudo, que não sabia mais quem era. Ele disse assim: "ah, eu queria isso!" (Risos).