segunda-feira, 24 de julho de 2017

Distante das Certezas




O budismo, em sua origem, é despido de todas as aparências. Nós as usamos (as aparências), pois, se as retirarmos, o budismo fica muito mais difícil de ser explicado e vivenciado. É preciso rituais, zafu e uma porção de coisas para que se crie um clima que os humanos apreciam. Contudo, em última análise, precisaria? Não, mas precisaria de um ser humano muito especial que não precisasse de templo, ritos, ensinamentos, nem nada, e que conseguisse despertar das ilusões sozinho. 

Quando olhamos para história da humanidade, percebemos que a nossa paixão por mitos é muita intensa, muito forte. Não admira que as pessoas lutem tanto com as questões filosóficas, políticas, etc., porque elas não se baseiam em racionalidade, mas em paixões. As pessoas apaixonam-se por uma ideologia, pelas ideias, e daí descartam qualquer outra, e por isso não são capazes de enxergar as outras coisas. 

Quando alguém quer dizer algo, podemos demolir a ideia através de argumentos. Esse era o processo no tempo de Buda, semelhante ao seu contemporâneo, Sócrates. Se você apresenta uma ideia, vamos debatê-la, vamos ver se ela sobrevive ao confronto dos argumentos. É isso que ele faz, mas não é isso que nós vemos, por exemplo, no nosso país hoje. Por quê? Porque mergulhamos em paixões. Então, agarramo-nos a uma ideologia qualquer, e, depois que você se agarrou na ideologia, todas as outras coisas não são nem consideradas, porque você ama demais sua ideia, ou seja, sua ideia transformou-se em um novo prolongamento do seu eu. 

Por isso foi tão valorizada a conduta do "não sei" no Zen: "quem é você?", "não faço ideia"; "de que você tem certeza?", "nada" - Porque tudo são crenças, nada além do que eu acreditava
Monge Genshô