No livro "De amor e trevas", de Amós Oz, há uma passagem em que ele
cita um avô. O avô faz uma consideração sobre o paraíso, e diz que o homem foi
expulso do paraíso, na opinião dele, não por ter comido da árvore da ciência do
bem e do mal, mas sim por ter comido da árvore da maldade, porque a escolha dos homens não é
entre amor ou desamor, entre o bem e o mal, mas sim entre compaixão e maldade. E
mesmo as crianças sabem qual é a diferença entre maldade e compaixão. Mas o
mundo, mesmo assim, está mergulhado em maldade. Então, segundo ele, o mundo assim está porque nós comemos do fruto
envenenado.
A interpretação budista é um pouco diversa, porque a lenda diz
que o homem comeu da árvore da ciência do bem e do mal. Na interpretação
budista, é nesse momento que ele perdeu a noção de unicidade, vislumbrou a dualidade
e passou a dividir tudo: bem e mal, certo e errado. E, quando ele fez isso, perdeu o "paraíso".
Todas as pessoas acham sempre que têm razão. Eu escrevi hoje para um aluno: “você
sempre confia muito no seu julgamento. E, por confiar no seu julgamento, você
quer sempre dividir o mundo em certo e errado, e o que você acha é o certo, e
tudo o que os outros fizerem está errado. Enquanto você acreditar nisso, você
estará perdido, porque esse é o mundo da dualidade.”
Na verdade não existe o Bem ou o Mal - não existe! Isso é só a crença na dualidade, como naquela fábula: um jacaré come
um pato numa lagoa - para o jacaré é um almoço; para o pato é uma tragédia. Onde
é que está o Bem? Onde é que está o Mal? É só uma questão de perspectiva.
[N.E.: transcrição de Palestra realizada por Meihô Genshô Sensei, em 26/09/2016]