O Zen é uma heresia dentro do budismo. Se estivesse em um sistema monoteísta
que tem por obrigação ter que aniquilar o diferente, seria diferente, e, portanto, aniquilado.
"Eu tenho
um deus, ele é melhor que todos os outros, tenho que impor sobre os outros.
Qualquer rebelião tem que ser esmagada". No budismo, isso não é verdade, pois eu
posso começar a ensinar o budismo de maneira diferente, e os outros professores budistas
não dizem nada. Essa é a linhagem do Genshô. E o Zen é assim, o Zen é uma
linhagem, que, estivesse num sistema monoteísta, teria sido exterminada e todo
mundo queimado na fogueira, porque ele muitas vezes ridiculariza, ironiza ou
desmente o que a maior parte do testamento do budista toma como certo. Ironiza
a si mesmo. Eu, o monge Genshô, estou ensinando aqui. Vocês devem acreditar em
mim? NÃO! Vocês devem testar. Se querem argumentar, aceitar, não aceitar, não tem importância. Querem praticar
assim? É dessa forma. Não querem, há outros modos, não tem importância.
Então, vamos a uma
história de um mestre Zen, a quem um aluno pergunta:
- Mestre, o senhor foi
aluno do grande mestre fulano de tal?
- Sim, fui aluno do grande mestre fulano de
tal.
- E o senhor aceita tudo que
ele ensinava?
- Não, aceito 50%; os outros 50% eu
rejeito.
- Mas como? O senhor
rejeita 50% do que o mestre fulano de tal falava?
- Se eu aceitasse 100%,
eu não seria digno do meu mestre.
[N.E.: texto transcrito de Palestra realizada por Monge Meihô Genshô em Brasília, 11/09/2016]