Aluno
é uma posição: você está aqui ouvindo uma aula, então você é aluno. Você se
dispôs a ouvir, mas dentro de você existe crítica, existe reação e tudo o
mais. Ser um discípulo é diferente,
porque você tem que passar um bom tempo observando seu professor para ser capaz
de aceitá-lo, integralmente, e dizer assim: “eu vou aceitar”, e se eu não
entender alguma coisa, simplesmente vou colocar em reserva, porque para o discípulo o
mestre diz: “essa parede, ( que é de alvenaria), isto aqui é madeira”, e o
discípulo diz: “Hai, sim senhor, é madeira” - e de agora em diante é madeira,
alvenaria é madeira. Eu vou pensar sobre o assunto dois anos, três anos, cinco
anos, dez anos, para entender o que ele quis me dizer.
Então o discípulo tem
que ter três atitudes: obediente, não resistente e silente. Então ele cala a
boca, ele não dá instruções para outras pessoas quando o mestre está presente. Por exemplo, ele evita parecer que sabe, ele não fica dando suas opiniões: “eu
acho isso”, “eu penso aquilo” e etc. e tal, “o senhor está errado naquilo outro” - o discípulo
não faz isso. Ele fica silente, e não é que a sua opinião não esteja possivelmente
certa, é que isso é expressão de vaidade, ego, orgulho... ter orgulho da sua
própria opinião. Tem até um nome próprio em sânscrito para esse defeito:
chama-se ditti - o desejo de impor sua
opinião.
O discípulo é obediente, pois o mestre diz: “você vai praticar assim”. Ele não entende, mas vai
lá e faz. Se o aluno diz: “eu não gosto de prostrações, acho absurdo a gente ficar
fazendo prostrações”, o mestre lhe fala: "bem, agora eu vou lhe dar uma prática: você tem que ir
todos os dias fazer 30 prostrações na frente da estátua de Buda", e vai embora. E
o aluno, todos os dias, obedientemente, vai lá e faz 30 prostrações na frente da
estátua de Buda, até ele perder toda a resistência às prostrações, e descobrir
que elas eram remédio para o seu orgulho, que ele não fazia isso porque tinha
dificuldade, ou porque estava olhando a estátua de Buda como se fosse Buda, o que não é.
Ser não
resistente é quando você diz uma coisa para o discípulo, e ele não faz nenhuma
expressão facial, ele não diz “mas”, ele não argumenta nada, ele simplesmente faz. Essas são as qualidades do discípulo: silente, obediente, não
resistente.
Por
isso eu sempre digo que alunos eu tenho muitos, mas discípulos são muito
raros. É natural. É natural que seja assim. Uma vez eu estava com uma
dificuldade financeira quando Saikawa Roshi ligou de São Paulo e disse: “você tem
que vir aqui ficar uma semana no templo Busshinji”. Eu falei para minha esposa:
“olha, ele me chamou”, e ela disse: “mas nós não temos dinheiro para passagem”.
“Bem… nem que eu vá à pé, de carona... eu tenho que ir porque ele me chamou”. É claro
que apareceu uma solução qualquer lá, eu consegui ir sem precisar ficar na estrada
pedindo carona para os caminhoneiros. É assim que tem que se comportar o
discípulo.
[N.E.: trecho de transcrição da palestra realizada por Meihô Genshô Oshô, em novembro de 2016.]