Nós dizemos aos monges quando entram nos mosteiros que quando se entra é noviço, e o
que o noviço tem que fazer é calar a boca e limpar o chão: “está aqui o pano,
limpe o chão e cale sua boca. Só faça, esse é seu treinamento, você é zero aqui
dentro”. Um instrutor disse-me num mosteiro: “você é o último da cadeia
alimentar aqui”. Eu respondi: “Sim, senhor! Hai!”.
Isso é muito importante, pois se você
aprender a ser nada, você entrou no caminho. Enquanto você estiver pensando na
sua importância, em como vai ser respeitado, enquanto você pensar na sua opinião, você terá um grande problema. Um aluno escreveu-me: “na minha opinião,
isso, e isso e isso”, e eu respondi: “é por isso que existem senseis e noviços. Você
é noviço e sua opinião não conta”. Então ele entendeu e disse: “hai, Sensei, eu
sou só um noviço”. E é assim que tem que ser, ou então desista, porque no Zen é
mais ou menos como no filme tropa de elite: pede para sair!
No Zen é bem assim, é tudo feito para desistir. Então são poucos que vão
continuar, mas é isso mesmo que os mestres querem. Não é a tradição do Zen
fazer força para conquistar muitos alunos. A tradição do Zen é a que vem de
Bodhidharma, 600 d.C., que ficou nove anos dentro de uma caverna, e todas as pessoas que
chegavam até ele pediam para serem seus alunos e ele nem dava atenção, até que Taiso
Eka foi lá e ficou 3 dias na frente da caverna sem comer e nem beber. Na
terceira noite nevou e a neve cobriu os pés de Taiso Eka. Ele ficou desesperado
e cortou o braço. Vendo o sangue pingar na neve, Bodhidharma achou que ele
estava ali a sério, foi lá e perguntou:
-
“Muito bem, o que você quer?
-
“Minha
alma não tem paz, por favor, pacifica minha alma.”
-
“Mostra-me tua alma, e eu a pacificarei.”
-
“Não consigo.”
-
“Pronto, já pacifiquei tua alma”
E
nesse momento Taiso Eka viu todas as suas ilusões desmoronarem e despertou,
e Bodhidharma o aceitou como seu discípulo
Nove anos para aceitar um
discípulo. E no Zen é assim mesmo. O meu Mestre, 40 anos trabalhando como
monge, um dos mais importantes Mestres do mundo, hoje é superior geral da América
do Sul inteira, e ele na sua vida só aceitou seis discípulos. Eu vou fazer 70
anos e ainda não tenho nenhum. Se não conseguir, a minha linhagem pessoal
morre. Essa é a tradição Zen: muitas linhagens morreram, porque você precisa de
um aluno com uma iluminação para continuar a transmitir o Dharma.
Por tudo isso nossas
salas são pequenas.
[N.E.: trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]
[N.E.: trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]