sexta-feira, 20 de abril de 2007

Carta do Colegiado Buddhista Brasileiro, à Veja, dirimindo enganos sobre o budismo.

Relendo um texto jornalístico em que o budismo é dito "uma superstição que se baseia na reencarnação" resolvi postar aqui a carta oficial enviada à imprensa sobre o tema:


A matéria, A força da Fé, erra em suas referências ao budismo, o etnocentrismo faz o redator transferir ao budismo termos e conceitos de outras culturas. Em primeiro lugar o budismo não tem dogmas, nem preconiza um Criador ou uma divindade, e não se baseia em uma fé, exceto na de que o homem , por seus próprios meios, pode despertar de suas ilusões.

Mais adiante o redator afirma que os budistas crêem em uma semente herdada de uma encarnação anterior, basta esclarecer que o budismo descarta almas, espíritos ou sementes permanentes que encarnem, sendo a crença de que o budismo seja reencarnacionista mais uma transferência de axiomas de outras religiões.
Para o budismo é a mente em funcionamento que cria a sensação de identidades pessoais. Em especial, o budismo é uma religião de despertar, não uma religião de acreditar.
Segundo o Sutra do Diamante, o mais antigo documento impresso localizado, nada permanece tal como alma ou coisa que carrega e transmite algo. E no Cannon Páli que reune as mais antigas escrituras, compilado por volta de 300 AC, fica clara a doutrina de Anatman (não há partícula permanente) em contraposição ao Atman (há alma, ou algo para reencarnar) doutrina do hinduísmo.
O Carma (os impulsos decorrentes de ação) é que gera uma identidade, e não uma identidade carrega um carma. Cada ser que surge, embora manifeste impulsos cármicos, é inteiramente novo em sua identidade, em seu eu ilusório pessoal.
Encarnações, como a palavra indica, implica que algo entra em um corpo, e não é isto que o budismo ensina, e sim que por um corpo se manifestar ele gera a noção de uma identidade, de um eu, e este eu se pensa algo separado, isto cessa inteiramente com a morte.
Os textos budistas que eventualmente usam a palavra reencarnações, por erro semântico, transferiram ao budismo um conceito que a este não pertence, e que o destaca de todas as outras grandes religiões.

Repetimos, para o budismo:

1) Não há divindade, nem criador.
2)Não há alma nem nada que sobreviva à morte, senão os efeitos do carma (que significa ação em sânscrito) ou seja,
ação gera consequências.
3) Reencarnação tem sentido no espiritismo é um erro usá-lo no budismo onde não há nada para reencarnar, há continuidade cármica (fenomênica) somente.
4) O budismo não se vê como uma fé, mas como um método de libertação, aponta a saída para o próprio budismo, que deve ser abandonado quando uma mente se liberta inteiramente.

PS: Sugerimos, antes de escrever sobre o budismo, consultar a entidade Colegiado Buddhista Brasileiro, CBB,
http://cbb.bodhimandala.com/ o qual reúne professores das diferentes correntes tradicionais da mais antiga das grandes religiões.

Assinam o presente documento os diretores em conjunto do Colegiado Buddhista Brasileiro, com sua qualificação após seus nomes.