terça-feira, 15 de julho de 2008
Qual a diferença?
O senhor incorpora a prática budista em meio ao trabalho com empresas e a família. Qual a diferença entre a sua prática e a daqueles monges que vivem em Mosteiros?
Agora que tenho esta experiência há algum tempo vejo como a vida nos Mosteiros é facilitada. Você não precisa se preocupar com cada pequeno detalhe. O sino toca e pronto: você vai fazer outra coisa; na hora de comer, uma equipe já lhe preparou a comida, você não vai falir, não será vítima de clientes insatisfeitos nem de concorrência desleal. Fiscais não tentarão chantageá-lo, nem terá que demitir pessoas que chorarão à sua frente. Sem dúvida praticar em uma vida simples e sem enfrentar esta guerra é muito mais fácil. O livro "O lapidador de diamantes", é sobre um monge tibetano que, depois de 20 anos de prática, é enviado pelo seu mestre ao mundo dos negócios com a missão de ser budista sem deixar ninguém saber. Prática duríssima, esta. Implica fazer funcionar todos os princípios do Dharma sob condições adversas. Atualmente faço os retiros com os alunos e depois retorno para escritórios, consultorias etc...No meu caso, todos sabem que sou um budista praticante, e é surpreendente que as pessoas do mundo dos negócios aceitem isto com naturalidade. Noto, apenas, que elas me observam atentamente, verificando se há coerência. Muitas oportunidades surgem ao ensinar o Dharma no trabalho. O treinamento é aguçado pela vigilância de todos. Porém quem duvida são os religiosos, quem questiona são os budistas que tem pouco conhecimento, ou não leram o Sutra de Vimalakirti ou os textos de Hui Neng, e tendem a achar que o desafio difícil é ser monge em um monastério, protegido de tudo e seguindo os votos cuidadosamente. Transitando entre os dois mundos vejo que nos retiros e mosteiros é como se estivesse de férias, pacificado, fazendo o que gosto, protegido das intempéries pessoais, fazendo e recebendo reverências. Muito diferente de ouvir palavras ríspidas ou ser tratado com hostilidade em uma empresa competitiva. Ser vigiado até mesmo pela esposa e filhos é muito mais duro que a vida pacificada e protegida do mosteiro. Quando vejo minha esposa e filho sentados no zendô, ouvindo atentamente um ensinamento que tento imitar de meu mestre, vejo que a eles não poderia estar iludindo, pois conhecem todas as minhas falhas, e quando um companheiro de trabalho faz o mesmo, percebo que estou passando uma prova difícil, porque ele também atentou para a minha postura durante meses antes de pedir que o ensinasse.