quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A prática da meditação


Meditação Zen - A prática da meditação traz a paz interior.

Vamos falar sobre o zazen. Meditar é voltar para nosso verdadeiro si mesmo. Esse si mesmo é aquilo que tem a natureza búdica. Aquilo que nós realmente somos. Aquilo que todo universo em volta de nós também é – e que aparece sob a forma de manifestação. Então, esta pura natureza original é aquilo com que nós realmente sentamos, porque o resto todo, todas as nossas ilusões vão sendo descartadas ao longo de meditações, zazen após zazen.

Na medida que a gente vai vivendo este processo de fazer o zazen é como se nós fossemos descartando coisas de nós mesmos e ficasse sobrando uma coisa única, pacífica, uma coisa com paz e é por isto que tudo começa a ficar mais bonito porque nós começamos a descartar tudo aquilo que está em volta da nossa verdadeira natureza, da nossa natureza búdica.

Esta é uma oportunidade muito interessante porque aqui sentado agora, zazen após zazen, você tem que observar que espécie de pensamento surge na mente. Que mente é esta, porque estes pensamentos e conteúdos que aparecem é aquilo que vocês verdadeiramente são. Então o zazen pode ficar difícil, porque de repente nós vemos a nós mesmos. Quem sou eu? Você é aquele conteúdo que está se apresentando porque você não é algo especial, você é um funcionamento, uma mente funcionando, um corpo funcionando. Como é que você se manifesta? Você se manifesta de acordo com aquilo com que você alimentou a sua mente, com aquilo que você colocou na sua vida dentro de você. Você não consegue evitar. Não tem como obstar isto. Este é o você que você construiu com aquilo que leu, com aquilo que amou, com aquilo que determinou, com os problemas que teve, com os planos que você está fazendo para o futuro. Estas coisas são as que vão aparecer

Tudo o que eu sinto é conteúdo da minha mente, é só a minha mente não é mais nada, porque se eu tirar o conteúdo todo da minha mente vai sobrar o que? Este lindo dia, este ar entrando pela janela, o sol lá fora, a respiração na almofada, a parede na nossa frente, e isto é perfeito. Torna-se imperfeito porque nós deixamos entrar todo o resto, todos aqueles conteúdos e são estes a verdadeira perturbação que nós temos

Voltar. Este voltar para o momento presente é realmente difícil por causa de todos os conteúdos com que nós nos alimentamos. Por isto na vida real nós deveremos evitar também as coisas que entram na nossa mente e a alimentam de forma errada. São os filmes, os programas de TV, os vídeos etc, as conversas e todas as coisas que não são boas. Vocês já sabem que não são boas e são perturbações, conteúdos que não constroem felicidade para você, mas nós somos muito viciados neles e então nós vamos procurá-los porque eles são prazerosos ou meramente interessantes. Até que você tenha uma mente imperturbável, você tem que evitar estas situações. Quando você tem uma mente que não deixa entrar os sentimentos você pode assistir a um filme vendo apenas o filme, sabendo que é meramente fantasia e não sentindo abalos. Se você não os tem, se os sentimentos conseguiram ficar de fora, então você está pronto para ver. Agora enquanto você assistir e ele o influenciar então a sua mente não está livre ainda. Você ainda é alimentado, arrastado por aquelas coisas. Quando você vê alguém no filme, um personagem que está procurando vingança e torce por ele, enquanto você sente esta satisfação no lugar dele a sua mente não é livre. Você é arrastado por aquilo que está vendo. Então se você é arrastado por aquilo que está vendo tem que evitar tudo o que arrasta.


Por isto em um retiro a gente faz um modelo. Este modelo é não alimentar a mente com nada. Então zero notícias, zero leituras que não sejam o Dharma, zero conversas, zero músicas, nada. Os sons que nos chegam já são suficientes quando vocês estão sentados no zazen, já tem de madrugada os animaizinhos que correm em cima do telhado, depois os cantos dos galos, as cigarras. As coisas estão bem quando você ouvir estes sons e sentir grande alegria como se fossem presentes. Estar aqui parado, sentado, que lindo o som desta cigarra começando a tocar, parece um prazer. Aí você está bem porque você está realmente ouvindo a cigarra. Se tivesse uma televisão na sala nós ignoraríamos a cigarra, nós não estaríamos aqui de verdade.

Nós somos um com o universo inteiro mas não o sentimos Não percebemos assim. Nós nos sentimos como? Separados, cada um sentado na sua almofada. Por isso em retiros zen a gente faz tanta pressão no sentido tudo junto, tudo junto. Não pense, não decida, não faça, vá junto com o fluxo, obedeça sinais sonoros, comece as coisas na hora junto com todos, termine junto com todos, faça reverência junto com todos, não cogite, não ache bom, não ache ruim, faça junto, só isto. Para que? Para voltar, voltar para nós mesmos porque nós nos perdemos de nós mesmos com os nossos pensamentos.

Se nossa mente estiver silenciosa então há espaço para a unidade. O homem cansa, a gente cansa e então surge o espaço para a gente perceber a Vida-universal. Quando vocês estão em zazen prestem bem atenção, às vezes o sono começa a tomar conta e naquele momento que o sono está chegando se a gente não se entrega para o sono e abre os olhos, aquela mente que vem a ser um pré-sono ela é uma mente muito especial, muito vazia, então este é um bom momento de agarrar aquele estado. Mas se você deixar que o sono se instale aí você dorme e entram outras fantasias. São as fantasias dos nossos sonhos que também manifestam o conteúdo da nossa mente. Então enquanto estamos fazendo zazen estamos sonhando acordados e se nos libertarmos do sonho então poderemos ver a perfeita felicidade e é a percepção da Vida-universal, da unidade. Quando percebemos isto, nosso verdadeiro eu, então nos sentimos muito, muito bem e aí desejaríamos não sair daquele estado nunca. Mas quando surge este sentimento, este sentimento também é uma armadilha porque é armadilha ficar neste estado prazeroso. E este estado prazeroso a gente começa a atingir na prática, mas também não deve se agarrar a ele, tem que ir mais longe.

E por isto na Escola Soto, Dogen já ensinou assim: sente, sem procurar atingir a iluminação, só pratique aqui sentado porque já é uma mente iluminada a mente sentada ou tem grande potencial de ser. Não tente alcançar nada porque se você ambicionar alcançar isto também vira outra armadilha. Uma mente aquisitiva, um materialismo espiritual, a tentativa de obter algo para si mesmo. Não precisa. Só sente e olhe, mais nada.

Às vezes a palavra zen é muito mal usada. Quando dizemos, esta pessoa é zen. Não. Zen também é encontrar a infelicidade, o sofrimento, então devemos andar dentro do sofrimento completamente. Saber sofrer também é a prática do zen. Entender a infelicidade completamente, percebê-la inteiramente. O pensamento que vem com ela, o sofrimento que vem com ela, a angústia que vem com ela também.

Monge Genshô (palestra em sesshin)