sábado, 21 de julho de 2012

Massacre em Denver



Treinamento em visualização para a violência

   Em todo mundo a violência cresce. 60% dos crimes são cometidos por homens jovens entre 15 e 26 anos. Não se alegue injustiça social, a ascensão do crime ocorre nas sociedades mais justas do planeta também. O fenômeno sofreu uma grande aceleração desde 1980. Cogita-se de algumas hipóteses, uma, evidente, é a proporcionalidade clara entre o consumo de drogas e a violência para obtê-la. A outra a agressão inexplicável, cometida por jovens nos quais não se acha motivo aparente para o ato. Vamos examinar o segundo caso.
  Treinei karatê durante anos, artes marciais outras também, tiro de competição idem, fui militar. Não há a menor dúvida em minha mente. A repetição da simulação de um soco facilita enormemente sua execução. Tiro treina-se também disparando armas vazias muitas vezes, isto condiciona a mente, as mãos, os reflexos. Para competições a visualização mental de um movimento aperfeiçoa o ato, retira as hesitações. Faz-se isto até no basquete por exemplo, imagina-se apenas o encestar. Os pilotos treinam em simuladores, ninguém diria que é um aprendizado inútil, não é feito em vídeo?
    Os defensores dos games violentos dizem que seu efeito é nulo. Não é bem assim. Apesar de meu treinamento jamais entrei em brigas, porém conheci colegas que foram induzidos pela proficiência a isto. Usei o revólver para prender um ladrão armado de faca dentro de minha casa. Não atirei nele. Mas sei de quem matou. Minha mente tem uma forte censura. Ocorre que estes freios funcionam bem em 99% das pessoas. Em 1% o superego não é tão eficaz. Hoje 1% da população americana está presa. Este número de criminosos é suficiente para abalar uma sociedade.
    A conclusão é fácil. Quando um psiquiatra diz que os vídeos não fazem de pessoas normais criminosos ele está certo. O que esquece é que aquele 1% de pessoas no limiar do ato violento tem suas mentes condicionadas pela visualização do alvo, pelo apertar dos botões, pelo ver cair seu inimigo imaginário. São estes os que serão os atores do ato sangrento. Mas bastam eles para desencadear o pânico em uma sociedade. A pergunta não é se os vídeos e outros treinamentos com este efeito são maus para as pessoas normais, mas sim, se podemos permitir que os indivíduos que precisam apenas de pequeno incentivo para apertar gatilhos devam ser condicionados a faze-lo mais facilmente.
Petrucio Chalegre - Escrito e publicado em:
Porto Alegre, 19 de abril de 2001.

Hoje, como um religioso zen budista, mais convicto ainda estou de que os filmes que banalizam o crime, os vídeos em que pessoas treinam visualmente atirar e matar, são uma influência a mais para os border lines, os indivíduos que tem dificuldade em distinguir entre realidade e fantasia.
Basta uma declaração para tornar tudo claro. No Brasil um jovem fez algo semelhante ao criminoso de Denver, que bateu o recorde pessoas baleadas nos EUA ontem, entrou em um cinema e atirou, entrevistado após o crime declarou: - Pensei que estava em uma realidade virtual...
Era um estudante de medicina, até então tido como pessoa normal. 
Qualquer um, que treine meditação, descobrirá quanto nossa mente é condicionada, e quanto entulho colocamos dentro dela diariamente. Seria melhor que alimentássemos nossa mente com o bom e o belo, não com explosões e  a visão de sangue jorrando de corpos.
Rev. Genshô