O Zen diz que o apego à forma e aos rituaís é uma dificuldade. Do outro lado quando nós entramos num mosteiro Zen, ou num centro de prática do Zen, nós vamos ver que há muita exigência quanto à forma. Mais do que em qualquer outro lugar. Pedimos que os sapatos sejam colocados lado a lado e retos, não sejam jogados de qualquer forma. O que isso significa? Significa: quem tem uma mente desarrumada a expressa de forma desarrumada. Então se alguém chega num lugar e joga os seus sapatos de qualquer jeito isso expressa uma mente não respeitosa, não disciplinada, não reverente. Então a forma expressa essa mente.
Então no método do Zen nós começamos com uma expressão formal correta esperando que através da expressão formal nós venhamos a modificar a nossa mente. É o caminho oposto. Nós sabemos, por exemplo, que quando alguém fica tenso, nervoso, contrai os músculos das costas. Então não adianta chegar para a pessoa e dizer assim: se acalme, relaxe. E a pessoa: mas eu estou nervoso. E as costas estão doendo de dor, contraídas. Nós sabemos que não adianta apenas fazer isso. Então nós pegamos essa pessoa e fazemos uma massagem nas costas, fazemos shiatsu, acupuntura, um bom banho bem quente e as costas relaxam e a mente relaxa. É claro, nós podemos começar por qualquer um dos lados e obter o resultado desejado. Podemos começar pela mente e obter o resultado no corpo, na forma. Mas nós também podemos iniciar na forma para tentar alcançar um resultado na mente.
Na verdade no Zen as abordagens dos dois lados existem simultaneamente. Sentamos em zazen para tentar criar uma mente pacificada. Mas como sentamos em zazen? Com uma forma e esta forma é altamente disciplinada, simétrica, apoiada, sólida, pacificada. Nossa mente pode ser uma tempestade, mas nós sentamos como budas, como estátuas de buda. E o professor diz: respire como um buda profunda e calmamente e deixe uma respiração natural se instalar. Fazemos um mudra como o de Buda, apoiamos três pontos no chão: os joelhos e as nádegas de maneira a ficar solidamente estáveis. Estabilizamos o corpo. Tornamos a coluna reta. Ao fazer isso nós influenciamos a nossa mente. É por isso que a forma é assim. Algumas pessoas não entendendo a forma olham para a escola Zen e dizem que isso é ritual e que é apego à forma. Não é apego à forma. Apego à forma seria se apenas sentássemos e brigássemos com as pessoas: você não está sentado certo. Você está sentado curvado. Você está sentado torto. Não pode sentar numa cadeira. Você tem que sentar em posição de lótus. Se nós fizéssemos isso seria apego à forma. Não é isso. Os mestres sabem que existe um sentido na forma e a forma é praticada para mudar a mente. É por isso que trabalhamos assim.