quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O mal e o bem, o bom e o mau



P:  Uma vez foi dito que nossa prática começa no nível da virtude até atingir o nível da compaixão. Quais são as etapas desde o nível da virtude?

Monge Genshô – Essa é uma forma didática de divisão.

A primeira é a prática da virtude e por isso tem regras como não matar, não roubar, não causar sofrimento, não usar substâncias que alterem a consciência. Como não temos o conceito de pecado, no entendimento budista, esses preceitos ou regras têm como objetivo a diminuição do sofrimento, tanto seu como de outros seres.

Depois de praticar desta forma por muito tempo, temos o segundo estágio que é o desenvolvimento de uma mente compassiva. Quem tem  mente compassiva não precisa das regras, pois matar, roubar e causar sofrimento não lhe é natural, e quanto mais cresce sua compaixão mais ela se estende a todos os seres e até mesmo as plantas, pedras e rios.  Para ele não existe a opção de causar sofrimento, ele tudo faz para evita-lo, na verdade vai mais fundo do que as próprias regras agindo com desprendimento e sentindo a dor dos outros como se fosse sua.

O terceiro estágio é o da não dualidade, onde não existem julgamentos e há equanimidade. Porém, não se pode cogitar a equanimidade sem passar pelos estágios anteriores. Algumas pessoas conhecem o Zen, começam a praticar e ler livros e querem falar sobre a não dualidade ou declarar que não existe o mal e o bem, que não há pessoas más nem boas,  que é impossível ser bom ou mau. Isto é ter entendimento zero sobre o caminho budista. A não dualidade é o desenvolvimento de uma mente não classificatória nem discriminativa, mas ela engloba os passos anteriores e só pode surgir em uma mente que já foi tomada inteiramente pela compaixão a tal ponto que a distância "eu e os outros" desapareceu, é ainda mais profunda que a mente compassiva. Ninguém que não tenha passado pelos estágios anteriores pode falar sobre não dualidade.