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sábado, 1 de abril de 2017

Buda era budista?



Podemos responder esta questão de duas formas:

1) Buda ensinou um caminho além dos extremos, sem comprometer-se com as palavras nem afirmar um conhecimento absoluto sobre todas as coisas, para várias questões alegou desimportância em considera-las. Não disse que revelava ou era um mensageiro de uma divindade ou que tinha em mente uma organização perfeita para difundir seu ensinamento. Alegou ser um ser de sonho ensinando para seres oníricos e enfatizou continuamente a relatividade das palavras, colocando em dúvida a capacidade destas de transmitir uma experiência não transmissível.

2) O mesmo Shakyamuni Buda, estabeleceu um corpo minucioso de regras para a comunidade dos monges e sua relação com os leigos. Ordenou os monges através de rituais colocando neles vestes especiais, o manto budista. Ensinava tendo em mente hierarquia entre a assembléia, colocando os mais antigos em uma posição e os mais novos em outra. Estabeleceu portanto rituais e um corpo canônico de regras de comportamento. Estruturou um processo de ensino em passos cuidadosamente graduados. Deu autoridade a discípulos mais destacados e reconheceu a realização espiritual dos que a atingiam. Criou portanto uma instituição muito bem estruturada, cujo arcabouço permanece sendo usado mais de dois milênios mais tarde por diferentes escolas budistas, as quais o vem adaptando a diferentes países e culturas.

Assim podemos concluir, somando ambas as afirmações, que, do ponto de vista doutrinário, Buda ensinou muito além de meras organizações mundanas. Porem para atingir seus objetivos estabeleceu sim uma organização religiosa e foi seu líder durante décadas. Desta forma Buda ensinou algo muito elevado mas simultaneamente, foi, sem dúvida alguma, o primeiro e o maior dos líderes budistas, o fundador original de um sistema de transmissão de seu ensinamento.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Leonard Cohen, um zen budista.

Foi então que ele conheceu Sasaki Roshi, um mestre do budismo zen, que seria um amigo valioso pelo resto da vida e determinaria sua decisão, por volta de 1994, quando estava prestes a fazer 60 anos, de se tornar monge e viver por seis anos no centro budista de Mt. Baldy, em Los Angeles, trabalhando como motorista e cozinheiro. Lá ele foi rebatizado como Jikan, que significa ''o silencioso''. A aparente contradição está em perfeita harmonia com sua personalidade, que nunca cedeu às expectativas dos outros e sempre manifestou um gosto pela ambiguidade, ou, em outras palavras, por colocar mais questões do que respondê-las, de forma gentilmente provocativa. A influência de Sasaki Roshi se estendeu para sua obra, que deixou um pouco de lado o humor quase sarcástico do álbum de 1974, New Skin for the Old Ceremony, que surpreendeu pela variação de temas, arranjos e ritmos, e os equívocos de Death of a Ladies Man (1977), que trazia Bob Dylan e Allen Ginsberg nos backings de uma canção e Suzanne na capa. Em Recent Songs (1979) e principalmente em Various Positions, gravado depois de um longo período de reavaliação, em 1984, Cohen desaparece para em seu lugar surgir um compositor ainda mais sutil e profundo, com canções de grande ''sensualidade espiritual'', como a belíssima Hallelujah, o que levou Dylan a comentar que eram como orações. O tempo como cozinheiro do mestre e amigo Sasaki Roshi, em que acordava todos os dias às 3 da manhã para trabalhar e meditar, rendeu um livro de poemas e desenhos, The Book of Longing, e um novo disco depois de nove anos. Ten New Songs (2001), meio soul, meio gospel, foi gravado em sua garagem e escrito em parceria com uma de suas backing vocals, Sharon Robinson. O reflexivo Dear Heather, três anos depois, traz letras mais diretas e uma voz mais rouca e sussurrada. É o efeito dos cigarros e de 70 anos bem vividos. Sobre a idade, aliás, ele disse, com serena sabedoria: ''À medida que você envelhece, passa a ter menos interesse pela nova versão da realidade''. (Trecho do blog http://danielbenevides.blogosfera.uol.com.br/2012/04/04/leonard-cohen-o-monge-hedonista/) Cohen morreu em 7 de novembro de 2016, aos 82 anos[8][9], em sua casa em Los Angeles.[2] Sua morte não foi anunciada até 10 de novembro.[10] Um memorial está sendo planejado para acontecer em Los Angeles em uma data futura. Cohen deixou seus dois filhos e dois netos.[11][12] Em uma entrevista concedida cerca de um mês antes, Cohen confessou que já estava preparado para sua morte. (wikipeadia)

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Casamento zen budista na Ilha do Papagaio SC

No domingo dia 10 de julho de 2016 foi celebrado o casamento, no ritual zen budista, de Caroline e Luís Cláudio.

O oficiante foi monge Genshô, o cenário deslumbrante foi um bom coadjuvante para a cerimônia emotiva que o rito budista proporciona.

Pela primeira vez cenas de drone foram incluídas no vídeo. A cerimônia zen budista se caracteriza pela ênfase na emoção e na promessa, são os noivos que lêem um para o outro seu juramento pessoal. Neste, o mar como fundo, propicia excelentes metáforas sobre a vida, o tempo, a transitoriedade e o amor.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Libertando a Mente




As pessoas levam um bom tempo pra se declararem budistas, normalmente passam bastante tempo pensando, “eu sou budista?”, "não sei". Até que um dia, a pessoa diz: “eu sou budista”, e ele se tornou, não foi convertido. Ele tem até uma ideia do quê é ser budista, que pode ser diferente da ideia de outra pessoa. E com o tempo ele vai ser o quê? Ele mesmo. O budismo serviu de que? De veículo pra sua libertação. É isso que o budismo é, um método, um veículo para sua a libertação, iluminação.

E o que é a iluminação, de verdade? É lucidez, lucidez completa sobre os mecanismos da vida, não ilusão, não se deixar arrastar pelos sonhos que vão conduzindo as pessoas, enrolando de forma tal que a pessoa no fim não consegue nem ser feliz, porque comprou sonhos - eu tenho que ser isso, tenho que ser bem sucedido, tenho que ser vitorioso, tenho que ser triunfador, tenho que ser, eu não sei o quê, etc, coisas que ficam tentando vender para  a gente todo o tempo.

O processo de ser monge, no fim, é dizer: “eu não vou ser nada do que vocês estão imaginando que eu tenho que ser, vou raspar minha cabeça para demonstrar isso, ninguém vai me vender nenhuma tintura, ninguém vai me vender nenhum penteado, ninguém vai fazer nada disso, porque estou recusando entrar nesse tipo de processo em que alguém me convence de algo ilusório”, e daí a gente pode imaginar que há monges que se tornaram bons monges mesmo, cresceram, se iluminaram e deixaram crescer o cabelo.

Tem uma mestra americana, Charlotte Jokko Beck, ela se tornou monja, uma grande mestra, bastante respeitada, aí quando chegou no fim da vida, ela deixou crescer o cabelo, parou de usar roupa de monja, as pessoas telefonavam para ela e diziam: “Posso visitar a senhora? Tenho sonho de conhecê-la”, e ela dizia: Mas para quê? Eu não tenho nada para dizer...”.  Quando tiverem oportunidade leiam os livros dela, são interessantes, assim como de outros monges que optam por outra vida, como Thich Nhat Han, o Mestre Zen vietnamita, que está morrendo, ele já está velhinho e passou a vida escrevendo, ensinando, e tudo o mais, e tinha ideia do que seria a vida que ele queria ter, teve a liberdade de ter a vida que queria. Porque se libertou.

E isto é o Zen.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Eu não sei


Pergunta:    Um depoimento muito bonito que uma pessoa, que  estava num estado mais elevado... isso pode ser considerado Dharma também? Ou é só quando o monge autorizado fala, que é Professor do Dharma, que podemos dizer que é Dharma?

Monge Genshô:  Acho que eventualmente pessoas dizem coisas muito pertinentes e vamos ter que ouvir e ter o discernimento de que ensinamento “reconhecido” tem que ser dado por alguém que recebeu a transmissão. Isso é pelo menos um padrão de qualidade para se dizer: “ isso aqui nós vamos considerar”. Mas mesmo assim, é como se dizia em latim, cum grano salis – com um grão de sal. Porque você aceita um professor e começa a ouvi-lo. Ele vai ajudar você dentro do caminho, na medida do que ele conhece e sabe. Mas haverá algum momento em que o seu caminho não é exatamente igual ao do professor. Eu posso falar sobre experiências que eu tive, mas existem experiências que eu não tive, e eventualmente alguém me pergunta: “O que eu faço nessa situação?” E eu respondo: “Eu não sei. Você vai ter que decidir sozinho, porque é seu carma, sua vida, seu momento. Eu não sei.” Eu posso dizer que comigo aconteceram tais e tais coisas e levo e digo isso, para que você considere que existem essas possibilidades. Posso ajudar você a pensar, mas não posso decidir por você. Até porque é uma responsabilidade imensa.

Esses dias um rapaz disse: “Ah, eu briguei com minha namorada. Eu a procuro, peço desculpas, volto, não volto, tento que ela volte, tenho medo que ela não volte”. Eu disse: “Eu não sei.” São tantas coisas que eu não sei sobre esse relacionamento, do futuro. Como é que eu posso dizer? Não sei. Posso dizer uma coisa com certeza: se acabar, você vai sofrer um pouco e depois de determinado tempo, isso vai passar. Isso eu sei. Que tudo acaba passando.  Se no futuro você vai dizer, “ah, não podia ter perdido aquele relacionamento”! Isso eu não sei. Pode ser. Como eu poderia saber? Então, o Dharma é uma porção de ensinamentos bem consolidados sobre impermanência, causa, efeito, sobre as marcas da existência, sobre o carma, mas ele não é uma solução para tudo. E tem várias coisas  que Buda evitou responder. Disse: “Eu não vou responder a essa pergunta”. Deus existe ou não existe? Essa pergunta não faz parte do budismo. Trata-se do tipo de assunto não verificável,  se é não verificável, então não faz parte do objeto de estudo do budismo. No momento em que for verificável, sim.

Pergunta: Então o Dharma seria somente fenomênico?

Monge Genshô: Não. Ele também tem conceitos abstratos, mas que são lógicos. Por exemplo, o conceito de pecado não existe no Budismo. Porque não existe conceito de pecado? Porque não existe alguém a quem você deva obedecer e que vai taxar de pecado se você fizer isso ou aquilo. Por isso não existe o conceito de pecado. Existem consequências. Qual é a consequência do seu ato?  É isso. A ética do Budismo é construída em cima das consequências. Quais são as consequências?

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Cale a boca e limpe o chão


Quadro de Eduardo Salinas
Pergunta – Ainda, no tema anterior, no Sutra de Lotus quando eles colocam Buda no pico do abutre e vêm um monte de deuses escutar o que Buda estava falando, isso também tem um componente político da época ?

Monge Genshô - É evidente, certamente. São estratégias locais não é? Quando começa a estatuária budista, existem as chamadas “marcas de perfeição”, que são uma saliência em cima da cabeça, um sinal no meio da testa, etc, mas, de onde é que vêm as 32 marcas da perfeição? Na realidade são do hinduísmo, são anteriores, vem dos vedas. Então o que aconteceu? Traz-se para a estátua de Buda uma série de características que estavam nos vedas porque eles estavam vivendo num meio hindu e queriam legitimar Buda como um ser perfeito, então a verdade é esta. Buda era uma pessoa perfeitamente normal, nós podemos deduzir isso pelos textos. Não tem nada a ver com as marcas de perfeição dos vedas, que aliás, se você ler atentamente e tentar reproduzir, vai ser um ser muito estranho! Os braços vão até os joelhos, os dedos tem todos o mesmo comprimento, tem 50 dentes, etc., então essas coisas todas também refletem uma ignorância da época. Se nós lermos os filósofos da época, Aristóteles registra em seus livros que um homem tinha 50 dentes. A falta de atitude científica de dizer assim: “peraí, quantos dentes tem um homem? Abra a boca, vamos contar”, ninguém, fez isso, então se escreveu: “50 dentes”. Assim, temos que olhar tudo sem jamais perder nosso olhar crítico.

Pergunta – Quais são as características para se ser monge no Zen, se existem pré requisitos, tem que fazer algum curso? Os Monges podem casar, todos trabalham?

Monge Genshô - Existem alguns Monges que conseguem viver da sua comunidade.  Assim, alguns monges no Brasil conseguem viver da sua comunidade, mas para isso você precisa reduzir várias coisas, ter família por exemplo é difícil. Caracteristicamente, essas que estamos falando são pessoas sozinhas, aí você pode morar no templo, e depender da sangha para viver.

Mas qual é a característica, a diferença entre monge e leigo, no Zen hoje é assim: o Dharma é prioridade. Quando alguém vai se ordenar monge eu digo: “você é monge, então não tem mais que dizer que tem que resolver um problema na sua casa”. Eu preciso que você faça isso, você faz. Então, é claro que tem um pouco de acordo quanto a isso, não é absoluto, mas deve ser colocado como prioridade a vida no Dharma, essa é a promessa que o monge faz. Os outros passam a ser sua prioridade, não ele.

Não só no Zen mas em todo o budismo, a ordenação de noviço – Shukke Tokudo – é o início do caminho e não o fim. Imagine, é como se você entrasse na ordem para ser treinado e o treinamento acaba demorando muito tempo, porque você tem que fazer períodos em monastério, tem que ficar junto de um professor responsável.

Por exemplo, Tokushi San é Monge noviço, mas ele tem um emprego público que impede que ele saia meses para passar num monastério. Então estamos esperando que ele se aposente. Enquanto isso, ele trabalha dedicadamente, tem um zendo pequeno na sua própria casa, cuida de um outro zendo aqui na zona sul de Florianópolis, vai na sangha, recebe encargos, isso é levado como parte importante da sua vida, mas, ele tem família e tem seu emprego para cuidar, e eu entendo isso. Se eu digo: “gostaria que você fosse a um sesshin”, e ele diz que foi convocado no trabalho como policial militar e não pode, é claro que eu tenho que entender este fato, assim como meu Mestre tem que entender as restrições familiares ou financeiras que eu tenho porque na realidade, a ordem não dá nada para o monge, nós temos que prover tudo. A única coisa que a ordem dá, é estadia no monastério, mas até chegar no monastério, você tem que ir por seus próprios meios, suas roupas você tem que comprar, mas, uma vez no monastério, você tem casa e comida. Mas não tem nada no Brasil, estamos sempre mandando monges para fora. Nós já estamos com estrutura física para treinar monges no Brasil, mas ainda não temos uma “chancela” oficial para isso.

Aluno – Mas os Monges passam por algum treinamento teórico formal?

Monge Genshô - Isso não é exigido dos monges. Ao monge noviço principalmente é exigido que cale a boca e limpe o chão. Não é exigido do monge que seja um professor, poucos monges chegam a professor. Ele tem que fazer um esforço de estudo sozinho, e caracteristicamente algumas pessoas se destacam por sua habilidade de estudar, mas isso é uma questão pessoal, a maioria dos monges não ensina, então, mesmo no Brasil, nós temos poucos Senseis, poucos professores autorizados.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Corpo, repetições e o manto


Pergunta – O sofrimento físico, não digo nem apenas somente a dor nas pernas, mas uma doença grave, uma ferida aberta, isso compromete este estado de lucidez e concentração?

Monge Genshô - Com certeza. Mente e corpo estão ligados. Se você está doente, a doença atrapalha você. Não adianta dizer que não é verdade, se você não cuidar do seu corpo, um dia ele começa a atrapalhar. Esses dias eu cheguei na minha casa e disse à minha esposa: “está na hora d´eu mudar de corpo porque esse aqui, já era, está com esclerose em articulação, artrose, etc, começa a dar problema”.

Então, o corpo é um instrumento muito necessário, uma âncora que segura você aqui, e permite fazer uma determinada prática. Se você perde o corpo, muitas portas de acesso ao universo são fechadas, o olhar, os ouvidos, nós usamos o corpo muito, ele não é nem um pouco desprezível. Então quando nós dizemos “mente”, mente e corpo são uma coisa só. Por isso, cuide do seu corpo, e cuide da oportunidade que você tem agora, há uma oração no fim do dia nos mosteiros Zen, que diz assim: “praticantes eu lhes peço encarecidamente, não percam tempo, porque o tempo rapidamente transcorre e a oportunidade se perde”.

Vocês têm a oportunidade de praticar e despertar. A outra forma é: continuem iludidos. Morram iludidos, nasçam iludidos e repitam tudo de novo. Esse na realidade é que é o verdadeiro castigo, ficar preso aqui, repetindo tudo de novo. Já pensaram? Vou morrer, aí eu nasço, não sei quem sou, mamãe me dá um nome, me manda para o colégio, eu tenho que aprender tudo de novo, aí tem colegas mais fortes para me dar cascudos,  tudo de novo!  Começar ignorante, tudo de novo. Isso é o verdadeiro castigo, porque a única coisa com que você conta quando nasce, que você pode levar, é seu carma.

Então você tem que ter um carma que direcione você para coisas melhores e certas, senão você vai ser direcionado para as coisas piores. É uma péssima idéia, por exemplo, morrer de overdose.  Nascer de novo com vontade de se drogar? Uma péssima idéia morrer com raiva, já nascer num mundo de ódios. É uma boa idéia morrer com os pensamentos mais belos, e a vontade de se manifestar num mundo belo, num lugar com pessoas de bons sentimentos.

Nós dizemos que a prática tem imenso poder. Nós dizemos que o manto budista tem grande poder. Há uma história de uns ladrões que roubaram o manto de um monge, e levaram para um cabaré, deram para uma prostituta e disseram, “te veste de monja e faz um strip tease em cima das mesas”. E sob os assobios e palmas dos homens ela fez o strip tease com o manto do monge. E por causa disso, ela renasceu em uma família budista e recebeu excelentes ensinamentos e tornou-se uma monja. Pois é. Tal o poder do manto. Como a história budista é surpreendente não é? Todo mundo fica esperando um castigo, e não tem. Portanto, é grande bênção ter esse contato.

terça-feira, 25 de março de 2014

As angústias fabricadas


As angústias do mundo são em sua maioria fabricadas. Você acredita em nome, forma, roupa, bens, você acredita em todas essas coisas e sofre por elas...

Comentário – O ser humano é feito disso, só num momento de libertação último é que consegue se livrar de todas essas coisas...

Monge Genshô - É disso que estamos falando, o monastério serve para a pessoa descobrir que a maior parte disso que dizemos, “eu preciso”, é fantasia. Porque, na realidade mesmo, não precisamos. Você precisa porque todos esperam que você tenha carro, casa própria, família, mas quando você está num mosteiro descobre que é possível dormir no mesmo lugar que você medita, é possível não ter quarto, é possível não ter privacidade, é possível não ter seu próprio banheiro.

Comentário –  é assim, onde vou morar, vou morar na comunidade budista de Florianópolis, então largo tudo e peço ao monge para dormir no zendo e a comunidade é que me sustenta?

Monge Genshô - É que vocês estão pensando que esse é um modelo para a existência, o monastério, e o mosteiro Zen é diferente do mosteiro católico. Em um mosteiro católico você vai para viver a vida inteira, então é muito mais confortável. Num mosteiro Zen você vai para treinar por um período curto, não se espera que um monge em formação fique mais que dois anos num mosteiro, três anos é o máximo. Ele terá uma vida mais dura no primeiro ano, no segundo ano está mais acostumado e no terceiro já estará cuidando dos outros. É um lugar para descobertas, não um modelo de vida. Se fosse um modelo de vida, o monge teria que ser mendicante e não ter ligação com nada. Por isso a designação “Monge” no Zen está errada. Não se trata de monges verdadeiramente, somos “Ministros do Dharma” ou “Reverendos”.

Quando você vai para o mosteiro, vive o celibato, mas quando sai, casa e tem família e muitas responsabilidades, por exemplo, aqui, se um monge quisesse realizar esse tipo de trabalho, teria que receber dinheiro da Sangha, senão como sobreviveria?

5) Qual a utilidade desse processo todo para a humanidade?

Monge Genshô - Essa é uma excelente pergunta. A humanidade mudou por causa dos mosteiros.  Em razão da existência dos monastérios é que a Europa mudou completamente. Os monastérios foram responsáveis por copiar livros, guardar conhecimento, educar, serviram de refúgio, foram as primeiras escolas e inspiradores das universidades. Isso também aconteceu no budismo. Em razão da existência de monges e monastérios, aconteceram estudos filosóficos, surgiu a Universidade Nalanda, na Índia, para preservação do conhecimento, os monges lutavam por paz entre os povos, criou-se na Índia, em razão do budismo, um longo período de paz. Se olharmos para o cristianismo, veremos que os monastérios preservaram a alma do cristianismo. Porque, pelas lutas de poder do papado e guerras internas, o cristianismo já teria desaparecido. O cristianismo ficou refugiado em homens como São Francisco de Assis, Santo Inácio de Loiola, Santa Teresa D’Avila. Essas pessoas estavam nos monastérios.


7) Voltando àquela questão anterior.  Então é mais um treinamento para que as coisas desejadas não sejam tão grandes. Não é que você não deva desejar, não deva querer, mas não precisa ter tanto apego...

Monge Genshô - Tem que tirar o “tanto”. Na realidade pode ficar plenamente liberto disso. Ter um carro é muito bom, não ter, tudo bem também. Não é esse o problema. Não existe um meio caminho nisso. Quando dizemos, “Ah, não me importo tanto com isso”, é porque você se importa sim. Só amenizou, mas se importa. Tem que quebrar a xícara e varrer os cacos, só isso, sem sofrer pela xícara quebrada. Se formos capazes de varrer os cacos de tudo na nossa vida, daí sim, pois não são somente coisas, coisas são mais fáceis. Emoções, apegos, pessoas, são fontes de maior sofrimento e mais difíceis de lidar.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Conexões infinitas


Pergunta – Existe na visão do Zen uma conexão entre as pessoas, ou seja, em minha próxima vida estarei conectado com as mesmas pessoas?

Monge Genshô – Sim. No Budismo Tibetano há uma história interessante que diz que quando você bate de ombro com uma pessoa é porque você já a encontrou em quinhentas vidas. Cada coisa que acontece tem conexão, estamos aqui juntos e entre nós existe muita conexão e se você imaginar muitas vidas essas conexões podem ter sido repetidas muitas vezes. Às vezes não nos damos conta de nosso parentesco, por exemplo, todos temos dois pais, quatro avós e oito bisavós. Se chegarmos a dez gerações são mil e vinte quatro pessoas. Em mil e vinte quatro pessoas, comparando com outros mil e vinte e quatro dos teus antepassados, a probabilidade de encontrar parentes em comum é muito grande e quanto mais recuarmos, por exemplo, mil anos, veremos que nessa sala somos todos parentes.

Pergunta – Já que o senhor falou no Budismo Tibetano, os Lamas são reencarnações de antepassados, certo?

Monge Genshô – Não. São manifestações cármicas tomadas como continuidade de alguém.  A palavra reencarnação é mal usada, embora você até possa encontrá-la em livros budistas, mas ela significa que uma mesma partícula tomou um mesmo corpo. O Dalai Lama atual, o décimo quarto, é tomado como uma continuação do anterior, porém temos que entender como é o entendimento oriental a esse respeito. Se formos nos basear nesse exemplo cada papa seria a continuação de Pedro, embora pessoas completamente diferentes. O Dalai Lama atual tem uma personalidade totalmente diferente de alguns antecessores,  um anterior foi deposto porque era depravado. Desses quatorze, cinco foram assassinados, é uma história muito complexa  e você reconhecer a continuidade dos Dalai Lamas é um procedimento altamente esotérico e místico e tem sentido dentro das escolas tibetanas, coisa que não existe no Zen, por esta razão não podemos mais do que aceitar esta tradição maravilhosa.
Não é possível comparar uma situação com a outra, mas de qualquer forma Buda, que está na raiz do ensinamento do budismo, negou a existência de almas ou espíritos que vão mudando de corpo. Não usamos a palavra reencarnação, embora ela seja prática. É mais fácil explicar para uma pessoa que não seja budista que ela deve praticar bons atos para ela mesma ter uma vida melhor após a morte. Dar essa explicação de memória, de como o “eu” surge é muito complexo, embora faça mais sentido para nós. Buda negou a existência de deuses, espíritos e almas. As vezes as pessoas me escrevem pedindo orações para os filhos doentes com câncer, por exemplo. A resposta que eu gostaria de dar à elas é que quando os deuses trabalhavam sozinhos e as pessoas oravam para eles, morriam 100% das crianças com leucemia. Agora com quimioterapia salvam-se 85%, então se seu filho ou neto estiver com leucemia leve-o para o hospital. 

Pergunta – Mas então o que determinaria se uma criança morre ou não de câncer é muito mais uma questão do karma do que um progresso tecnológico?
Monge Genshô – Se você nasce um mundo onde exista progresso tecnológico é porque tem karma pra isso. Se você tivesse karma para nascer numa tribo da África e tivesse leucemia com certeza morreria. Você é nasceu num mundo civilizado, mas existem mais de um bilhão de pessoas que não saber ler e escrever. Ainda acontecem muitas coisas no mundo que são produto da ignorância e isso depende de karma. Em que família você irá nascer? Depende de seu karma. Para que mundo você se sentirá atraído? Depende de seu karma.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Nem eu nem outro


Pergunta – Como ter uma compreensão clara de coisas boas, por exemplo, de compaixão e generosidade? O Senhor estava falando que não existe um “eu” para sentir raiva, mas então quem é o “eu”’ que realiza atos de compaixão e generosidade?

Monge Genshô – O Bodhisattva tem compaixão, mas para ser totalmente iluminado não pode enxergar os outros seres. Não pode haver eu aqui e você aí, de quem eu me compadeço. A visão de um “eu” separado está dentro da segunda Roda do Dharma.

A primeira Roda é a da Virtude, onde existem regras, não faça o mal, pratique o bem etc.

A segunda é a Roda da “Mente de Bodhichita” onde o ser tem compaixão, mas ainda vê o outro.

Na terceira Roda existe a não dualidade, ou seja, entre mim e você não existe diferença, a compaixão já não se aplica.

Sob o ponto de vista teórico sua pergunta faz muito sentido e deveria ser respondida no âmbito da não dualidade, mas não conheço algum praticante Budista que pratique perfeitamente a compaixão, conheço muitos que tentam praticar a virtude, a palavra correta, a mente correta e os pensamentos corretos. Pessoas que mesmo tentando se comportar melhor, ainda têm uma profunda noção de si mesmos e têm pena dos outros, o que é diferente de compaixão. Compaixão é não dualidade, é você realmente se colocar no lugar do outro, sentir a dor do outro, ser o outro, não existem outros seres, você e o outro são a mesma coisa a ponto de você nem sentir compaixão, pois não existem outros por quem se compadecer. É paradoxal para uma mente não dual matar outros seres para comer seus pedaços, por exemplo. Conheço apenas praticantes no estágio da virtude com raríssimas exceções. 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Reinos superiores e inferiores



Pergunta – Em um retiro anterior o senhor mencionou os seis reinos. Eu gostaria que o Senhor falasse um pouco sobre os reinos iluminados e se esses reinos são uma condição para se chegar ao Kenshô ou são o próprio Kenshô?

Monge Genshô – O fato de existirem planos superiores não importa para nós, não precisamos acreditar nisso. Se atingirmos a iluminação, a cosmologia Budista diz que existem outras formas de manifestação e outros mundos superiores a este. Outras escolas citam trinta e dois mundos, desde o mundo dos infernos até o mundo dos Budas, seres completamente iluminados. Nessa cosmologia são criados estágios cada vez mais elevados, o estágio que nos encontramos seria um estágio de manifestação ainda na forma e haveriam estágios de pura consciência sem forma.

Provavelmente existem mundos de manifestações mais sutis e mais felizes que o mundo onde estamos agora. O estágio de um Buda é onde a manifestação cessa. Para o Budismo, voltar para cá é uma forma de prisão. Somos prisioneiros de impulsos e desejos e por isso retornamos para cá. Mas mesmo nessa manifestação podemos experimentar mundos distintos, por exemplo, esse mundo do Dharma, do sesshin, é um mundo diferente do mundo lá fora. Esse mundo é tão distinto e melhor que se fazemos um sesshin longo, não temos mais o desejo de votar para o mundo lá fora. É essencial que compreendamos que nossa manifestação é uma forma de prisão condicionada pelo nosso carma, nossos impulsos. Existem mundos inferiores e superiores, como eles são não nos importa, o que importa para nós é a prática de agora.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Cortar a raiz do sofrimento



Saikawa Roshi continua:  "Está escrito no Sutra do Coração que por ver a vacuidade você liberta a si mesmo, mas isso é apenas a metade. Para usarmos uma metáfora, a vacuidade é como um espelho e um espelho está sempre vazio, mas ao mesmo tempo, todo o mundo está dentro dele. Para o caminho Budista ter nada é ter tudo, essa é a verdade sobre nós mesmos. Se vocês realmente entenderem isso indo profundamente dentro de vocês mesmos, poderão ir além, uma vez que ganho e perda, vida e morte não representarão nada, pois vocês serão um com o universo. Não haverá divisão entre eu e os outros, entre sujeito e objeto. Se vocês realmente virem isso, poderão apreciar suas vidas. Digo até que poderão apreciar seus sofrimentos, pois a raiz do sofrimento pode ser cortada e cortar a raiz é importante, pois só assim poderão aceitar todas as coisas, inclusive a morte. Morte e vida, ganho e perda, eu e os outros são apenas uma idéia dentro da mente e o verdadeiro “eu”, está além desses conceitos em nossas mentes.

Muitas pessoas me perguntam se Budismo é compaixão. Posso dizer que isso seja verdade, mas só se vocês virem que não há divisão entre vocês e os outros, só assim poderão cuidar dos outros como cuidariam de vocês mesmos. Sem essa verdadeira experiência, a compaixão será apenas um entendimento intelectual, mas o Zen não é uma compreensão mental e sim é ter uma verdadeira experiência. Para alcançar esse entendimento usamos o zazen e através dele poderemos ter a verdadeira apreciação da vida. Quer vocês entendam ou não, poderão sentir a base da unidade."

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O mal e o bem, o bom e o mau



P:  Uma vez foi dito que nossa prática começa no nível da virtude até atingir o nível da compaixão. Quais são as etapas desde o nível da virtude?

Monge Genshô – Essa é uma forma didática de divisão.

A primeira é a prática da virtude e por isso tem regras como não matar, não roubar, não causar sofrimento, não usar substâncias que alterem a consciência. Como não temos o conceito de pecado, no entendimento budista, esses preceitos ou regras têm como objetivo a diminuição do sofrimento, tanto seu como de outros seres.

Depois de praticar desta forma por muito tempo, temos o segundo estágio que é o desenvolvimento de uma mente compassiva. Quem tem  mente compassiva não precisa das regras, pois matar, roubar e causar sofrimento não lhe é natural, e quanto mais cresce sua compaixão mais ela se estende a todos os seres e até mesmo as plantas, pedras e rios.  Para ele não existe a opção de causar sofrimento, ele tudo faz para evita-lo, na verdade vai mais fundo do que as próprias regras agindo com desprendimento e sentindo a dor dos outros como se fosse sua.

O terceiro estágio é o da não dualidade, onde não existem julgamentos e há equanimidade. Porém, não se pode cogitar a equanimidade sem passar pelos estágios anteriores. Algumas pessoas conhecem o Zen, começam a praticar e ler livros e querem falar sobre a não dualidade ou declarar que não existe o mal e o bem, que não há pessoas más nem boas,  que é impossível ser bom ou mau. Isto é ter entendimento zero sobre o caminho budista. A não dualidade é o desenvolvimento de uma mente não classificatória nem discriminativa, mas ela engloba os passos anteriores e só pode surgir em uma mente que já foi tomada inteiramente pela compaixão a tal ponto que a distância "eu e os outros" desapareceu, é ainda mais profunda que a mente compassiva. Ninguém que não tenha passado pelos estágios anteriores pode falar sobre não dualidade.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Alaya Vijnana



Aluno:  É impossível lembrar?
Monge Genshô – Diz-se que existe um depósito de consciência universal chamado “Alaya Vijnana” onde tudo está registrado, e isso faz algum sentido, porque o universo não tem como esquecer. Tudo que acontece, de alguma forma fica registrado, os sons, as imagens, tudo, mesmo os traços do big bang permanecem como radiação de fundo. Teoricamente seria possível acessar essa consciência e saber tudo que aconteceu. 
Quando Buda iluminou-se, diz-se que lembrou-se de suas quinhentas vidas passadas.  Mas isso não é relevante, o interessante para nós é que tudo que amamos e fazemos de bom não está de certa forma perdido.  Por outro lado, tudo que fazemos de mal também está gravado. Do ponto de vista Budista não existe ninguém lá fora para nos julgar, toda a ética Budista está construída em cima de ação e consequência. Você terá que arcar com as consequências de cada ato seu. Não existe nenhum salvador para livrar você. A melhor maneira de obter melhores resultados é fazer coisas boas que redundam em coisas boas e que retornarão para você como coisas boas. A única maneira de apagar o mal feito é praticar mais o bem, de maneira que todo o mal seja finalmente superado pelo bem praticado. Mas de forma absoluta, para o universo, bem e mal não existem, é uma questão de perspectiva. Ontem eu respondi uma pergunta sobre bem e mal da seguinte maneira: “um jacaré come um pato na lagoa, isso é bom ou ruim”? Para o jacaré foi um almoço, para o pato um tragédia. Onde está o bem e o mal? Você não consegue responder.
 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Retiro Zen em 29 de maio



  • Casa de Retiros Vila Fátima. Rodovia SC 406, 2210 - Morro das Pedras Florianópolis - SC 88066-000
  • Sesshin de outono de 29 de maio à 02 de junho. Valor R$460,00 (hospedagem e refeições).
    Reservas e Informações: juliana@chalegre.com.br 

Publicações


quinta-feira, 14 de março de 2013

Renascimentos


Pergunta – Nós somos obrigados a passar por todos os Reinos?

Monge Genshô – Não. Se você tem a oportunidade de um precioso nascimento humano pode tornar-se um Buda diretamente. Essas são só situações cíclicas. Se você tiver uma vida muito generosa, com muita bondade, acumular muitos méritos, você pode ter um nascimento num Reino Divino de grande felicidade e vai viver assim no Reino Divino até que esse carma se esgote e você recaia. Você tanto pode subir quanto descer. Você tem um precioso nascimento humano agora. Mas você pode executar atos de grande violência e ter um renascimento numa condição infernal. Você pode nascer numa família de terroristas e ser educado para ser um homem bomba, esse seria típicamente um renascimento infernal.
Pergunta – Como estaria nossa caminhada hoje como ser?
Monge Genshô – Essa pergunta não é respondível. Essa seria uma pergunta injusta. Uma pergunta injusta, por exemplo, seria – Já que todas as coisas tem causas, qual é a causa primeira? – então você aponta uma causa e já que todas as coisas tem causa, qual seria a causa dessa causa?
Um imperador perguntou para um mestre Zen onde estava apoiado o mundo. E o mestre respondeu – Sobre os ombros de um grande elefante. E este elefante, onde está? A resposta foi – Em cima de quatro grandes colunas. E essas colunas? Essas colunas estão sobre as costas de uma grande tartaruga. E essa tartaruga? Bom, rei, vamos parar por aqui, daí em diante são só tartarugas! Na realidade essas perguntas não tem resposta filosófica, não são objetos de investigação no budismo, como outra pergunta – Qual era o tempo antes do início dos tempos? – são perguntas não respondíveis.
Pergunta – Existe a possibilidade de antes de ser humano, ser animal, por exemplo?
Monge Genshô – Com certeza. Dei todas as explicações sobre os reinos, mas isso não significa que os reinos sejam assim. Quer apenas dizer que como meio hábil, que se diz em sânscrito, upaya, foi criada uma maneira alegórica de explicar. Não podemos confundir as palavras ou a própria mitologia budista com a verdade em si. O budismo não pretende ensinar uma verdade sobre o universo alem da lei do carma. O budismo é somente um método e não se diz o único método, ou “a verdade”. Mesmo a escola (Yogachara), é uma perspectiva do sistema, uma forma filosófica de explicar. Nela é a mente que produz o universo, simultaneamente, mas para a escola citada existem tantos universos quanto os observadores. Então mesmo dentro do budismo vamos encontrar diferentes apreciações desse tipo. Talvez a escola filosófica mais sólida, que resistiu a todos os embates até agora, é uma escola de 1900 anos, do patriarca da nossa Escola Nagyaharajuna, que é o criador da Escola Madhyamika, a Escola do caminho do meio. E ela não aceita nenhuma afirmação como absoluta. Ele diz – Eu não digo que é, ou que não é, nem que é e não é ao mesmo tempo e nem que nem é e nem não é simultaneamente, e se em algum momento for entendido que eu afirmei alguma coisa, trata-se de um engano. Eu recomendo a vocês que assim que se sentirem mais preparados, leiam atentamente Nagyaharajuna. Temos dois livros publicados em português de Nagyaharajuna, Carta à um Amigo e A Guirlanda Preciosa.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

De que tudo está vazio?



Mesmo assim essa unidade não diz, eu sou a unidade. A unidade é vazia completamente de um eu, por isso o conceito de vazio torna-se tão importante no budismo. Porque, de que as coisas estão vazias? As coisas, todos os fenômenos, nós, somos vazios de um eu. Porque não existe eu algum, então, o vazio são esses próprios fenômenos. Se o vazio são os fenômenos, então os fenômenos são o próprio vazio. Por isso vocês todos são a vacuidade e a vacuidade somos todos nós e a miríade de todas as coisas. Por isso é necessário esquecer-se de si mesmo para ser iluminado pela miríade de todas as coisas. Essa é a essência do ensinamento budista.

Pergunta – Digamos que a mente passou pelo estágio da virtude e chegou ao estágio da compaixão. Ainda há o terceiro estágio que seria o da vacuidade. O que é necessário para passar do estágio da virtude para o estágio da compaixão?

Monge Gensho – A virtude são simples regras, como se alguém dissesse a você, “Não faça isso, pois isso causa sofrimento”, isso é o preceito, a virtude. Para passar para a compaixão é necessário um eu menor e sentir o que os outros sentem. A compaixão é perceber o que acontece com os outros seres no universo. Isso é compadecer-se. Trata-se de uma ampliação da consciência. Já o terceiro estágio da não dualidade é muito difícil, nada fácil de ser ensinado ou percebido, o estágio da não dualidade implica numa realização espiritual muito mais profunda, por isso que o sutra do coração é difícil de ser entendido. Porque ele trata essencialmente da não dualidade. Lembrem-se, o sutra do coração diz, “O vazio é forma e forma é vazio”, isso é a essência do que eu disse por ultimo.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Uma mente estável


(continuação, Os oito aspectos da iluminação)

" Seis. Meditação. Meditação significa permanecer no dharma sem distração com uma mente imperturbável. Buda disse,”Praticantes, se vocês concentrarem a mente ela entrará em estado de estabilidade e assim vocês poderão compreender as características dos fenômenos surgindo e desaparecendo no mundo. Fazendo isso suas mentes permanecerão imperturbáveis, assim como aqueles que querem evitar inundações constroem uma barragem, assim também o praticante cultiva a meditação para evitar que a água da sabedoria se perca.”

 Então, a primeira tarefa de vocês como praticantes de meditação é conseguir uma mente estável, enquanto ela estiver turbulenta vocês ainda não deram o primeiro passo, nós precisamos esfriar essa mente usando a imobilidade de nosso corpo, a respiração profunda, a ausência de estímulos e a boca fechada. 

 Nenhum aspecto deste último ponto é tão importante quanto o de evitar causar cisão na Sangha, este é considerado o maior crime budista depois de matar o pai , a mãe, um Buda e derramar o sangue de um Buda ou bodisatva, causar cisão na comunidade através de conversas, críticas, acusações ou desmerecimento de pessoas, afastando seres do caminho.  Uma mente calma e estável nos afasta dos temores e julgamentos vãos que criam a cizânia.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Falecimento Yndra


Yndra Janine Kerpen de Moraes, liderança zen budista em P. Alegre na Sangha Mente de Iniciante, faleceu hoje no início da noite de câncer, no Hospital Fêmina depois de longa luta. Até o final enquanto pôde falava no Dharma comigo diariamente e se preparava conscientemente para esta passagem. Para seus dois filhos e numerosos amigos e admiradores, entre os quais ardentemente me incluo, fará imensa falta.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A ética budista



Todas essas histórias, desde a da ponte do meio-balde até a dos chipanzés, têm relação com nossa atitude de integração e respeito com toda a natureza e com tudo o que nos cerca. O primeiro preceito budista diz “Não matar”. Isso não significa, somente, não matar seres humanos, mas tem relação com tudo o que nos cerca. Meu primeiro professor do Zen, Kanner San, dizia que esse preceito inclui não matar uma pedra, simplesmente porque também uma pedra pode ser danificada por um mero destruidor, por um capricho. Se não houver um motivo plausível, não temos o direito de destruir qualquer coisa ou de causar qualquer sofrimento. Esse é um questionamento que cada um deve fazer com relação a si mesmo e sua vida no mundo.

Quando penso em moralidade, penso que o budismo não tem uma moral no sentido de mandamentos que temos que seguir, preceitos existem, são como faróis para nos guiar e evitar uma vida com sofrimentos adicionais. Não é uma questão de moral no sentido convencional, como questionar-se sobre a roupa a vestir ou de como nos comportamos; não se trata de uma coisa assim caracterizada por rigidez, por algo que vem de fora ou de um deus a quem tememos. Trata-se de uma ética em relação ao sofrimento, logo, todo ato que cause sofrimento aos outros deve ser questionado, o que engloba gestos, palavras e em última análise, pensamentos – neste caso, porque o pensamento leva a que se cometam as palavras e os atos que irão gerar sofrimento.