quinta-feira, 12 de março de 2015
A hostilidade do mundo
Aluno – O mundo em que a gente vive se mostra muito hostil, contra toda a prática que o zen ensina. Quero saber como agir em relação a isso.
Monge Genshô – A cada momento você vai precisar decidir. Ele parece hostil mas não necessariamente é hostil. Ele pode ser um mundo que tem medo, em que cada pessoa pode estar tentando se proteger. E como você está agindo?
Sinceramente, o mundo não me parece hostil. Estou sempre viajando e chegando em diferentes lugares, e é normal encontrar pessoas afáveis, que ajudam, colaboradoras, e até um mundo de confiança. Na quinta-feira à noite eu estava no aeroporto de Guarulhos e a Avianca tinha um vôo pra cá, e eu fiz o ticket de embarque e quando estava no portão chamaram os passageiros e disseram o 'voo foi cancelado, a aeronave estragou, passem de novo no check in e nós vamos colocar vocês num hotel'. Eu fui lá, disseram que pegaria um ônibus e iria para um hotel no centro de São Paulo. Enquanto esperávamos o ônibus, foi uma oportunidade de fazer amizade com dois rapazes que trabalhavam numa empresa de segurança eletrônica e aí um deles veio sentado comigo, conversando.
Quando chegamos no hotel não tínhamos nenhum papel, a companhia não deu nenhum nada, nem disse algo a respeito, simplesmente ficaram com os nossos tickets e disseram para pegar o ônibus, e nós fomos lá pegamos o ônibus, sem dar nenhuma passagem. Eu só disse que era um passageiro da Avianca e o motorista do ônibus nos admitiu e levou até o hotel. Quando chegamos não tínhamos nenhum comprovante, só dissemos que éramos os passageiros da Avianca, dezenas de pessoas, e eles pegaram simplesmente o nome e a assinatura na ficha de entrada, para ser rápido, e fomos recebendo quartos e havia um jantar disponível no restaurante, e foi só ir lá e dizer que éramos passageiros, até fizeram gentilmente um prato diferente para mim porque eu não queria carne.
Aí me hospedei, saí de manhã, ninguém pediu nada, fiz o check out, pegamos um táxi para o aeroporto, o motorista não pediu nenhum papel nem dinheiro nem nada e nos levou ao aeroporto, e embarquei num voo da Gol. Na Gol, sem papel da Avianca, me deram um ticket de embarque e fui para o avião e entrei. Como não reclamei dos atrasos, de ter dormido só 4 horas, a vida foi bem agradável, e durante a janta fiz mais duas amizades com outras duas pessoas que estavam sentadas. Será que o mundo é hostil? Tudo foi feito na confiança, todo o tempo, ninguém pediu nenhum papel. Nós estávamos em São Paulo e ninguém presumiu que alguém poderia fazer alguma trapaça ou ser um vigarista, ou ter entrado no hotel naquela hora e dito que era um passageiro da Avianca, ninguém nunca verificou nada, tudo funcionou assim. Será que o mundo é hostil?
Eu posso contabilizar aí 4 amigos que trocaram cartões, um já me escreveu um e-mail. Depende de como nós olhamos. Talvez seja hostil, talvez não. Talvez funcione tão baseado em confiança que nós não chegamos a perceber. Na verdade, se 10% das pessoas fossem trapaceiros ou vigaristas o mundo não poderia funcionar. O mundo funciona porque a gente diz coisas e somos acreditados. Não é assim? Depende dos nossos olhos. Há alguma hostilidade no mundo, sim, há. Há criminosos no mundo, há pessoas insensatas, sem dúvida. Mas está longe de ser a maioria.( Continua)
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