segunda-feira, 6 de julho de 2015

MONGE GENSHÔ VOLTA DO TREINAMENTO NO JAPÃO

Pergunta: O senhor podia explicar mais o ponto de vista budista sobre o carma?

Monge Genshô: "karma" literalmente quer dizer “ação” em sânscrito, e "karma vipaka" quer dizer “frutos da ação”. Todo tempo você está produzindo carma quando está agindo. Você pensa, fala, age, produz carma. E consequências advirão daí. Então, toda moral budista é construída em cima da ideia de quais são as consequências, do que vai acontecer a partir desta sua ação. É isto. Claro que nós podemos falar horas sobre o carma, mas em essência é isso. O que nós estamos falando é: não tem um deus castigando, nem premiando. Não tem ninguém vigiando você, não tem um anjo da guarda protegendo você, não tem demônios tentando você, mas tem a sua mente e as suas ações. Você caminha sob o chão que você constrói com suas ações. Isto é muito maior do que a gente pensa. Muito!

Eu fico sempre espantado com o que pode acontecer com pequenos atos. Porque eu estava viajando com Saikawa Roshi, mostrando as sanghas pra ele, ele olhou pra mim e disse assim: “você devia ser monge!”, e eu: “ah mas eu não estou tão interessado nessas coisas, eu não gosto de rituais...” E ele disse: “você está enganado. Rituais e cerimônias criam energia pras sanghas e as pessoas vêm e se solidificam por causa disso. Você está enganado, você devia ser monge.” 

Aí eu, cheio de respeito por ele, pensando, “bom agora começa aquele processo todo, vai levar uns dois anos até ele realmente me confirmar, nós nos conhecemos a uma semana...etc.

E então eu perguntei: “e quando seria isso”? E ele disse: “Hoje de noite! Quando nós chegarmos em Florianópolis você reúne a sangha e eu vou ordenar você. Instant decision!” (decisão instantânea).

E porque ele disse “essa frase”, vocês estão aqui. Teve gente viajando desde Goiânia, Uberlândia, Guaratinguetá, e estão aqui. Vocês estão aqui porque ele disse "aquela frase". Então uma frase, uma palavra, pode criar MUITO carma, muitas consequências. As consequências estão aí. Nós temos vinte grupos Zen no Brasil. Isso já é um sangha significativa. E aonde vai terminar isso? Como será isso daqui a cinquenta anos? Eu não sei, nem vou estar aqui pra ver, mas alguns vão estar. Nós muitas  vezes subestimamos uma frase que a gente diz, por isso nós deveríamos ser muito cuidados com o que nós fazemos, com o que nós desencadeamos. Porque uma frase, uma atitude, uma ação pode mudar o mundo inteiro. Então quando você olha o Mestre pequenino lá, a frase dele tem muito poder e pode fazer muita mudança.