quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Bodhidharma e o Imperador Wu (Parte I)

Bodhidharma se apresenta à frente do imperador Wu, chamado por este, que ouviu dizer que um grande mestre budista havia chegado da Índia, lugar de onde era originário o budismo. Chegando à frente do imperador Wu, este pergunta: 

- Eu, imperador, construí muitos templos e mosteiros para o budismo, que méritos eu acumulei nos céus por ter feito isso?

E Bodhidharma responde:

- Mérito nenhum, majestade.

O Imperador não gosta muito da resposta e diz:

- Então qual é a grande verdade da sagrada doutrina?

E Bodhidharma responde:

- Vazio ilimitado, essa é a grande verdade.

O que ele quer dizer? Que nenhuma coisa tem um "eu" inerente, não existe nada que seja um eu no mundo, nada que seja realmente separado. Vazio ilimitado. E não há nada que possa ser chamado de sagrado. 

É uma resposta muito interessante, não há nada que possa ser chamado de sagrado, pois tudo é sagrado. Se tudo é uno, tudo é sagrado. Não há nada separado do sagrado, isso é sagrado, aquilo é profano. Isso é divisão na cabeça dos homens. Tudo é sagrado. 

O imperador não entende a resposta e pergunta:

- Então quem é que eu tenho na minha frente?

E Bodhidharma responde:

- Não faço a menor ideia.

O que é uma resposta coerente com a anterior. Ele diz, "eu não faço a menor ideia de quem está na sua frente", porque eu não sou um eu separado, eu não posso nomear a mim de maneira tal a me distinguir do resto, se eu fizer isso estarei elaborando um engano. É isso que Bodhidharma responde.

Aí Bodhidharma sai, atravessa o rio e vai pra Shaolin, interna-se numa caverna e diz-se que ficou 9 anos fazendo zazen.

(continua)