Aluno – É difícil entender o que é
aceitação, e depende do nível de raiva que surge de dentro. O que é
verdadeiramente a prática da aceitação?
Monge Genshô – A prática da aceitação é
parecida com a oração de São Francisco, “que eu seja capaz de me esforçar pra
mudar o mundo, que eu seja capaz de reconhecer, de perceber o que eu não tenho
capacidade de mudar, que essas coisas eu tenho que aceitar, e que eu tenha
sabedoria pra ver a diferença”. Porque às vezes nós pensamos que não somos
capazes de mudar, e somos. Esse é um problema candente no Brasil de hoje. Lutam
duas ideias: nós somos capazes de mudar ou as coisas têm que ser assim, sempre
foram assim e não tem como mudar e nós temos que aceitar que os seres humanos,
a política, tem tal e tal característica? Nós somos capazes de mudar ou não?
É evidente que nós somos capazes de mudar.
Se nós nos conformarmos e acharmos que sempre foi assim e sempre será, então
nós nunca seremos capazes de mudar. Mas se existem países diferentes do nosso,
nós podemos ser diferentes, nós podemos mudar. Então, o que é aceitação é uma
questão de ter sabedoria pra ver a diferença entre o que eu posso mudar daquilo
que eu não posso. E isso exige diligência e perseverança.
Um pássaro voa com duas asas, então a
exigência é que você tem que ter as duas asas. Você tem que ter a prática e tem
que ter o ensinamento. É errado dizer, “ah, eu sou um praticante do Zen, o Zen
enfatiza a prática, o zazen, eu não preciso ler nada, não preciso estudar”.
Isso é errado. Você precisa ouvir as palestras, você precisa ter contato com os
professores, você precisa ler. Agora, se você só pensar em ensinamento, é uma
asa só, esse pássaro não voa. Você fica orgulhoso de seu ensinamento e ainda
fica querendo dar explicação pros outros quando você não está habilitado. Não é
isso. O que você tem que fazer é tentar aprofundar o seu conhecimento e do
outro lado, você tem que praticar o ensinamento. Mesmo que você falhe
continuamente, tem que tentar praticar.
O grande problema dos iniciantes
budistas é que acham o budismo maravilhoso, aí começam a estudar, mas não
conseguem fazer nada, aí chegam em casa e a família diz: “mas você não é
budista? Como é que você está agindo assim agora?”.
Uma vez eu estava fazendo uma palestra com um amigo meu e uma senhora disse assim: “eu não posso me imaginar sendo
assim, calma que nem vocês”, e ele disse, “isso é porque a senhora não chegou
no meu limite”. Porque todos nós temos algum limite. Então você pratica na sua
vida, tenta praticar os ensinamentos diariamente, faz da sua vida os
ensinamentos e é assim que você começa a voar. Quando alguém se ilumina, isso
pode significar que pode ser uma iluminação de nível bem baixo, ou seja, o
mestre reconhece que você tem uma “compreensão”. Você compreendeu, entendeu,
mas isso não passou ainda pra vida. Passar para os atos, é um nível muito alto.
Então, se dividirmos em 4 níveis, a compreensão seria o primeiro. Ação
iluminada é quando a pessoa anda iluminada, trabalha iluminada, já passou para
a ação e é um nível altíssimo. Nos outros níveis, ainda não chegou lá, ainda
não chegou à ação. E no primeiro nível é apenas entendimento, já é um grau
de iluminação, mas é apenas entendimento.