Pergunta: O senhor pode falar um pouco sobre
a construção e a desconstrução do ego?
Monge Genshô: O ego, o “eu” são fabricados,
nós os construímos e precisamos muito deles. Às vezes as pessoas dizem, “mas o senhor
quer desconstruir o “eu” e como vou viver sem meu eu?”. Isto está completamente
errado. Você precisa muito do seu eu, às vezes nós precisamos até de mais de um
eu.
Eu carrego 2 cartões de apresentação: um
diz: “Petrucio Chalegre, Prajna Consultoria, Diretor”, e então eu o entrego para
as pessoas que querem falar com um consultor e falam com um consultor, e quando
estou falando como um consultor, não sei onde está o monge. E eu tenho outro
cartão que diz: “Monge Genshô, Monge Zen Budista, Comunidade Zen Budista de
Florianópolis”, e este então eu entrego para outras pessoas. Isso cria algumas
confusões porque as pessoas me ligam no celular e dizem: “quem fala?”. Elas
deveriam, na verdade dizer: “eu sou fulano de tal quero falar com tal pessoa”. E quando eu pergunto “com quem quer falar?”, e
eles perguntam se é da Comunidade Zen, eu pego a máscara de monge, coloco-a, e
digo, “sim, sim eu sou o monge Genshô”, e automaticamente eu fico assim mais
amigável. Mas se a pessoa diz: “aqui é da empresa tal, queremos falar sobre um
projeto”, então eu digo: “pois não, sou Petrucio Chalegre, o senhor já acessou
o meu site? E minha voz fica automaticamente mais incisiva.
Se você perguntar assim: “Quem você é?”,
eu sou a pessoa que for necessária dentro de uma circunstância. Em casa há
outras máscaras, às vezes uso a máscara do pai e dou uma bronca no filho; ou
estou com a minha esposa e ela diz, você não vai sair com este sapato, coloca
esta meia, coloca este sapato , esta camisa não, tira esta camisa, dai eu
protesto, reclamo, mas obedeço, então sou o marido e este é o personagem do
marido. E quando chegamos na sangha ela diz: “Senhor Monge, o que que eu faço?”.
Aí é o monge, é outra pessoa.
Enfim, o que quero dizer é que nós somos
muitos "eus" diferentes, muitos egos diferentes e todos são
construídos e deveríamos olhar para eles com este olhar irônico de quem veste
uma fantasia. “Ah, vesti esta fantasia, e agora aquela outra e aquela outra”.
Mas se você perguntar: Quem é você de verdade?
De verdade? Nenhum deles. Nossa verdadeira natureza é outra coisa, é o que
temos que descobrir aqui, nossa NATUREZA BÚDICA, desperta, que olha todas estas
coisas da vida como um jogo, com ironia, vendo com clareza como é, como as
coisas são todas construídas.