(continuação)
E depois que Bodhidharma foi para a caverna, muitos apareceram por lá querendo aprender
com aquele grande e famoso mestre que tinha respondido para o Imperador,
deixado-o confuso. E Bodhidharma não dá atenção a nenhum deles, e
eles quando vêem aquilo, vão embora. Até que Taiso Eka vai até lá e fica na
frente da caverna sem desistir durante 3 dias. No terceiro dia nevava muito, a neve
cobriu os pés de Eka, que fica desesperado, já com fome, sede, e agora frio
excruciante, e então ele corta o braço pra mostrar sua sinceridade, para jurar pelo seu
sangue.
Vendo seu sangue cair na neve, Bodhidharma vai até ele e pergunta:
- Muito
bem, o que é que você quer?
E Eka responde:
- A minha alma não tem paz, por favor,
pacifica a minha alma!
E Bodhidharma responde:
- Me mostre tua alma e eu a
pacificarei.
E Taiso Eka não consegue resposta nenhuma, não consegue encontrar sua
alma. E Bodhidharma diz:
- Pronto, já pacifiquei a tua alma.
Tendo passado por
toda aquela angústia, desespero, de ter chegado até lá, disposto a aprender com um
mestre, depois de tudo aquilo que Eka tinha passado, quando Bodhidharma dá essa
resposta, ele desperta das ilusões, descobre que ele não tem uma alma,
sente-se uno com todas as coisas, compreende internamente o que Bodhidharma estava querendo dizer.
E assim Eka fica como discípulo de Bodhidharma e ele é o 27º patriarca da
nossa linhagem. Bodhidharma é o 26º e Taiso Eka Daioshô, grande mestre, o 27º. E
nós descendemos dessa linhagem de ensinamento.
Então, o quero dizer a vocês é que o budismo foi criado para atender este tipo de desespero, o desespero
de Taiso Eka, "minha alma não tem paz". Isso sim, para isso o budismo voltou sua
atenção. Para isso Buda voltou a atenção porque ele tinha uma angústia, uma angústia existencial muito grande.
Se toda
vida termina em velhice, doença e morte, o que eu estou fazendo aqui? Como é
que eu saio disso? Como é que eu encontro solução para a angústia de enfrentar
essa finitude da vida humana? Essa angústia existencial é que é a angústia de
Buda, e o budismo se voltou para isso, não para o conforto das coisas pequenas da
vida.
Então o budismo e em especial o Zen só tem sentido se nós estamos
procurando a iluminação. Só aí tem sentido você sentar e realmente se esforçar
como a gente demanda num Centro Zen, caso contrário, não é o lugar para
nós. Se é só consolo, há outros lugares.
Se é para se sentir abençoado para ganhar
dinheiro, também tem outros lugares. Se quer qualquer solução mágica também há
outros lugares. Mas no budismo não existe nada assim.