segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Tripitaka - O Terceiro Cesto e o Fundamentalismo




(CONTINUAÇÃO)



Há ainda um terceiro conjunto de escritos budistas que está neste cânone Tripitaka, chamado Abhidharma, que são  comentários de Mestres sobre os sutras. Isso ficou mais ou menos congelado uns 3 séculos após a morte de Buda. Criou-se um cânone e sobre esse cânone tomou-se a decisão de que nada mais entraria de novo, nenhum comentário a mais, e então pararam de adicionar informações.

Existe uma escola que conserva essa ideia de que só existe o cânone, então só se referem a ele e não consideram nenhum outro texto. É como se tudo o que precisassem estivesse ali.

Qual é a tendência mais natural de uma escola assim? É que o texto torna-se mais importante do que todo o resto. Então os textos são vistos como o repositório da sabedoria, e você sempre se volta para eles para tentar saber qual é a verdade. Não é diferente do que aconteceu com o cristianismo depois do congelamento da bíblia, que significa “os livros”. Tendo os livros todos reunidos no Concílio de Niceia, também congelaram as informações e não entrou mais nada. Havia mais de 40 evangelhos, mas apenas 4 foram escolhidos, e os outros foram descartados como apócrifos. Evangelho de Tomé, por exemplo, evangelhos vários com histórias que foram consideradas exageradas acabaram ficando de fora. Os 4 evangelhos selecionados compõem o que nós conhecemos hoje como a bíblia.

Qual é a atitude das pessoas diante disso? As pessoas abrem a bíblia e consideram aquilo a palavra de Deus, porque está escrita e aquilo é o certo, o que acaba criando conflitos, como aconteceu quando declararam que o sol era o centro do sistema solar e a Terra girava em volta dele. Acontece que no livro de Josué está escrito que Josué pediu a Deus que parasse o sol para que ele pudesse ganhar uma batalha, então surge o argumento de que se o sol parou, o que levou à interpretação de que é ele que gira em torno da Terra. Caso contrário ele teria pedido para a divindade parar a Terra. Hoje nós sabemos que isso causaria uma catástrofe gigantesca com enormes proporções.

Estou contando isso para que nós vejamos que o mesmo tipo de tendência fundamentalista também aconteceu no budismo. Uma vez eu conversei com um professor budista de uma escola que considera muito os textos e ele disse: “a sede da consciência é o coração”, e eu perguntei por que ele estava dizendo isso, e então ele respondeu: “porque no texto tal Buda disse isso dessa forma”. Mas isso é só o Sutra, é o conhecimento daquele tempo. Essa postura dele é uma postura fundamentalista, que diz que se está escrito lá desta forma então está certo.

[Trecho de Palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]