"No Japão, os Roshis não precisam se preocupar com ensinar a forma, pois a forma já está tão impregnada no ar que não há como o aluno não incorpora-la - há sempre os exemplos dos outros monges e sempais. Além do mais, quando o aluno vai para o mosteiro, vai aprender a forma - e, possivelmente, alcançar algumas realizações.
Vamos olhar para a nossa informalidade ocidental - in-forma - sem forma - caos. Para a nossa prática, podemos adotar a forma que quisermos, mas o uso da forma me parece de extrema importância no Zen, pois é na forma que vivemos as nossas vidas, é na forma que lidamos com as pessoas e com os objetos é que vamos manifestar a nossa compreensão e iluminação. Diferentes escolas usam formas diferentes de atingir os mesmos objetivos - de libertar o aluno da mente condicionada e, espera-se, leva-lo a manifestar isto na vida diária. A Iluminação em si, sozinha, não basta - como transporta-la para o mundo da forma - eis a nossa prática.
A insegurança - é algo que todo 'novato' passa no mosteiro - já em si vira um treinamento fantástico - como ficar bem no meio da insegurança? Como fluir, e estar em paz, no meio da confusão? Como realizar as atividades com plena atenção, adaptando-se a cada instante? Como ficar livre do ego e orgulho, da mente mundana, que não quer errar ou passar vergonha e simplesmente fazer o seu melhor naquele exato momento? Como agir - fazer as atividades do dia-a-dia - com a mente iluminada e não com a mente condicionada e robotizada? Uma das maneiras de distinguir primeiro anistas dos mais graduados no mosteiro é exatamente como eles lidam com esta insegurança e com os imprevistos... Sim, temos licença para sermos 'tolos' - como diz no sutra "Em segredo e misteriosamente, agindo como um tolo, atuando como um bobo, apenas o capaz de herdá-lo é chamado de mestre entre os mestres'. Temos licença de "simplesmente" sermos nós mesmos, minuto após minuto - mas este ser nós mesmos é algo muito profundo e não tão 'simples' quanto parece à primeira vista."
Monja Isshin