sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Inocentes e carma


Pergunta – Mas, por exemplo, ela passa fome porque produziu karma para isso, é assim?

Monge Genshô – Sim. Tem karma para nascer num mundo onde há fome. Assim como você tem karma para nascer como ser humano e inevitavelmente morrer em no máximo noventa anos. Esse é seu karma. Não existem vitimas inocentes. Existiriam vítimas se houvesse um Deus criando um ser de cada vez, porque ele teria o poder de não deixar acontecer determinada situação. Mas como para o budismo tudo é continuidade, não existe nenhuma inocência. Mesmo que você esteja vendo uma criança que sofre, ela não é inocente se você olhar um milhão de vidas.

Pergunta – Como desenvolver a compaixão nessa situação?

Monge Genshô – Seres são inumeráveis, faço voto de liberta-los, todos. Todos os seres, mesmo não inocentes, sofrem e tem dor, você também não é inocente, nem eu. Desta forma eu posso saber como é a dor do outro e me compadecer porque sei que a dor dele é como a minha. É como o exemplo do pesadelo, uma pessoa que sofra com um pesadelo, realmente sofre. O que você faz quando vê alguém sofrendo com um pesadelo? O acorda. É exatamente isso que Buda tenta fazer com os homens, coloca sua mão no ombro de quem está tendo seu pesadelo de vida e diz, “acorde”. Ao despertar todo pesadelo desaparece, essa é a maneira de se livrar do sofrimento. Todos que sofrem são vitimas inocentes se você olhar apenas suas vidas agora, mas todos estão vivendo sonhos. Assim como não existe a vitima inocente, não existe algo chamado culpa. É algo muito extenso para que você diga “É culpado”, por isso não vale a pena cultivarmos culpas. Temos que tentar despertar e assim vermos a realidade como é. Todas as vidas tem envelhecimento, doença e morte desde a infância. Quando eu nasci já havia penicilina, foi minha sorte, pois tive difteria, se tivesse nascido dez anos antes teria morrido.   Se eu tivesse nascido dez anos antes você diria que eu era um vitima inocente da difteria? Não, eu teria karma para nascer numa época em que não havia cura. Apenas isso.