terça-feira, 6 de maio de 2014

Posso fazer um pedido?


Pergunta – Buda, quando se iluminou, viu todas as suas vidas passadas. Sempre acho que isto é uma questão de fé. Mas, na realidade, ele conseguiu ver todo o fluxo da vida. Isto faz mais sentido para mim.

Monge Genshô – Você consegue perceber que você foi uma estrela? Isto é enxergar. Pensar literalmente no que está escrito muitas vezes é besteira. Os mestres Zen encaram isto de outra forma. Lembram no Hanamatsuri, da cerimônia na qual as pessoas derramam chá sobre uma estátua de Buda? Aquilo ocorre porque, segundo a lenda, quando ele nasceu, choveu sobre ele uma chuva doce. E ele apontou para o céu com uma mão e para o chão com outra, dizendo: “Entre o céu e a terra eu sou o mais honrado”. E um mestre Zen disse: “Se eu estivesse lá e ouvisse isto o teria matado a pauladas”.

Este é o Zen. Pessoas constroem coisas muito fantásticas, mas como acabei de explicar, não precisamos de coisas muito fantásticas. Não precisamos de um Buda menino falando este tipo de coisa logo depois de nascer. São coisas feitas com intuito de divinizar Buda. É claro que fazemos as cerimônias, pois as pessoas gostam e tem emoção. Em uma das ocasiões uma senhora perguntou: “Posso derramar o chá sobre a estátua de Buda?”, eu disse: “Pode”. Ela então indagou: “E posso fazer um pedido?”, eu disse: “Pode”. Então veio a pergunta: “E ele atende?”, eu disse: “Não senhora”. Quem pode resolver nossos problemas somos nós mesmos. Eu gostaria, naquela situação, de ensinar e dar uma oportunidade para o Dharma. Se fosse mais compassivo diria: “Sim, claro, ele atende, faça com fé”, mas isso não é o Dharma. Portanto, olhe para os aspectos religiosos do budismo com olhos despertos. E isto não é aula para iniciantes.