quinta-feira, 29 de maio de 2014

Manter uma mente correta até o fim


Pergunta – Nossa sociedade nunca foi tão próspera e ao mesmo tempo nunca houve tantas pessoas tristes e deprimidas ou com problemas psicológicos. Essa parece ser a tônica do mundo moderno, construir pessoas estressadas e infelizes. É claro que cada pessoa tem seu próprio conceito de felicidade e sei também que dentro do Dharma não há uma regra, mas quais seriam as atitudes corretas para buscar a felicidade?

Monge Genshô – Primeiro temos que considerar que não existem respostas fechadas no budismo. Se formos considerar uma cidadezinha do interior do Pará onde não existe atendimento médico, a isolarmos e fizermos uma pesquisa na qual iremos verificar quantas pessoas existem nesta comunidade com problemas de estresse ou com problemas como depressão, a resposta será próxima a zero.  Mas se colocarmos uma equipe médica para analisar isso, começam a surgir grande quantidade de casos. Um dos efeitos do aumento de atendimento médico é o aumento da notificação de doenças. Esse exame das coisas muitas vezes distorce o que julgamos na sociedade.

Existe o que é chamado de “O Sinal e o Ruído”, de Nate Silver, que fala sobre isso. O conceito é que o que ouvimos de informação vem carregado de ruídos, que não é o sinal ou a verdade que está por trás dos fatos, mas sim um ruído que deturpa e distorce a informação. Neste livro ele dá um exemplo sobre notificação de gripe no México e nos EUA, que são completamente diferentes. Por exemplo, nos EUA é maior a notificação e a mortalidade menor, enquanto que no México é o contrario, porquê? Porque a notificação no México é baixa e o que é notificado é aquele que realmente morreu. Através dos dados disponíveis não é possível detectar a verdade.

Mas o que Buda disse a respeito da felicidade? Que a vida é cíclica e, portanto, parece instável e sofrida, principalmente porque esperamos da vida estabilidade e segurança que ela não nos dá, porque todas as coisas que desejamos que durem, não duram. Não há nada que dure para sempre, por isso a vida naturalmente já tem esse aspecto de instabilidade. Buda disse que há uma causa para nosso sofrimento e que essa causa é o nosso desejo pela estabilidade das coisas e dos desejos. A maneira de resolver isso, diz ele, é através do Nobre Caminho Óctuplo. O primeiro passo é a compreensão destes fatos, ou seja, se eu compreendo e aceito que a vida é insatisfatória e instável, poderei até rir das coisas. Se temos certeza que vamos morrer, porque todos vão, deveríamos pensar o que de fato é irrelevante na vida?

Estava conversando com um amigo e ele reclamava de uma situação no trabalho, então eu lhe disse que não se preocupasse, pois isso tudo seria esquecido. Ele continuou argumentando sobre os créditos no trabalho que sairiam para outra pessoa, mas e daí? Isso também será esquecido. Damos importância demais para coisas muito pequenas. Se pensássemos na morte constantemente, teríamos uma vida iluminada. Para pensarmos melhor sobre a vida deveríamos colocá-la sob a perspectiva de que vamos morrer em trinta dias, o que é importante nesse período que lhe resta?

Alguém lhe diz que seu nome está no SPC, se você vai morrer mês que vem com certeza vai rir disso. Com que mente vamos morrer é determinante sob o ponto de vista budista. Os impulsos mais importantes são os últimos, são eles que determinarão a próxima manifestação. Como não sabemos quando iremos morrer, o tipo de mente que cultivamos é extremamente importante. Como não sabemos a hora da morte, devemos nos manter prontos, com a mente correta. Sentamos para meditar e treinar nossa mente. Fazemos cerimônia para treinar nossa mente. Não importa a forma com que você busque, mas o importante é seguir o ensinamento de Buda, a compreensão correta, o vazio de um eu inerente em todas as coisas, a insatisfação com a vida e também o fato da vida ser cíclica.