terça-feira, 20 de maio de 2014
Bodhisattvas e santos
Pergunta – Gostaria de saber o significado dos instrumentos.
Monge Genshô – Você deve ouvi-los e descobrir por você mesma. Talvez eu possa explicar o instrumento com forma de nuvem. Ele é tocado sempre antes das refeições. Você deve prestar atenção e ver o que significa para você, se eu explico, algo se perde, você deve sentir o significado. Para o Zen a explicação tira do aluno a oportunidade do insight.
Pergunta – Um Monge é um Bodhisattva?
Monge Genshô – Não exatamente, ele faz votos e tenta ser. Em muitas tradições existe uma distinção entre professor e monge. Na tradição Tibetana, por exemplo, Lama é professor e não necessariamente um monge. O professor não precisa fazer os votos de monge. Nas escolas japonesas, há mais de cento e cinquenta anos, os monges passaram a se casar, talvez por isso fique mais difícil distinguir o monge do professor leigo nessas escolas. A maioria dos monges não é professor.
Em um monastério por exemplo, admitem-se muitas pessoas, porém, pode haver uma pessoa com grande vocação monástica, que pode trabalhar por exemplo, recolhendo lenha, mas que pode não ter o talento necessário para ser um professor. Acontece às vezes de uma pessoa ter sido monge por um período, depois larga o manto, mas continua estudando e torna-se professor. O monge é quem faz os votos e encontra-se dentro de uma carreira sacerdotal.
Pergunta – E o Bodhisattva, é?
Monge Genshô – O Bodhisatva em uma tradução literal significa “ser de compaixão”. Satva significa ser, e Bodhi compaixão. Alguém que se dedica a libertar os outros. Pode ser qualquer pessoa, não necessariamente um monge.
Pergunta – Mas, quando no budismo se fala de alguém que ajuda os outros a atravessar a margem da ignorância, ele faz isso de forma consciente. Isso faz com que ele seja igual a quem ele ajuda?
Monge Genshô – Ele faz o voto de não ficar na margem da sabedoria enquanto houver pessoas no lado da ignorância. Ele se sacrifica pelos outros.
Pergunta – Jesus Cristo foi um Bodhisattva?
Monge Genshô – Sim, podemos chama-lo assim de um ponto de vista budista.
Pergunta – Isso não significa um ser iluminado, ele apenas fez o voto de ajudar outros seres?
Monge Genshô – Um Bodhisattva tem pelo menos um grau de iluminação. Quando nos referimos a Buda, falamos de uma iluminação completa. Um determinado grau de iluminação não é algo tão difícil de ser alcançado e significa que a pessoa atingiu uma grande compreensão, lucidez e clareza da mente. Mas isso é apenas o primeiro passo.
Pergunta – Esses poderiam ser os homens santos?
Monge Genshô – Não necessariamente, pois santidade não significa iluminação. Você pode ser muito puro, virtuoso, não ferir ninguém, ajudar as pessoas e ser um santo, porém, não ter nenhuma clareza. Ainda está preso a uma grande ilusão e espera obter algum tipo de recompensa, por exemplo, espera que com seus atos esteja agradando algum tipo de divindade com o fim de obter um lugar em alguma espécie de paraíso. Como está preso numa situação de fé, ainda não é lucidez.
O Zen não pretende formar santos, existe até um ditado que diz que “a santidade cheira mal”. Um Bodhisatva não tenta ser santo, ele quer ajudar os outros seres que sofrem.
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