Algum tempo atrás uma pessoa escreveu
pra perguntar por que o nome do livro que eu escrevi era “O Pico da Montanha é Onde
Estão os Meus Pés', e não era “NO" pico da montanha é onde estão os meus pés, porque
quando chegamos em algum lugar a preposição necessária é “em”. E então eu
respondi que foi proposital, pois o que tentei dizer é que todos os lugares
onde colocarmos os nossos pés são o pico da montanha. Isto porque o problema
normalmente da ambição de realizar-se e de obter-se algum sucesso, alcançar
algum determinado lugar e lá colocar os nossos pés, é imaginarmos que só quando
chegarmos naquele lugar e colocarmos nossos pés lá, então estaremos felizes,
teremos nos realizado, seremos vencedores na vida.
Na verdade, essa ambição revela-se
constantemente falsa, porque quando encontramos uma pessoa e perguntamos, “você
realizou o que você ambicionava na vida?”, ela nos diz: “ah, eu cheguei lá”,
mas aquele “chegar” não se traduziu numa felicidade completa, porque quando
chegamos a sensação é: “é só isso? Era isso o que eu queria?”.
Quando nós ambicionamos qualquer coisa e
chegamos lá, como quando nos graduamos na universidade e obtemos o diploma e,
naquele dia da diplomação imagina-se uma grande coisa, todos tiram fotos e há
cumprimentos e festejos, parece uma coisa maravilhosa. No dia seguinte, começou
a vida de novo, e nós somos demandados a sermos profissionais, e é como se
tivesse começado tudo de novo, e o pico da montanha está longe. E quando
atingimos o sucesso profissional, olhamos para aquele sucesso profissional e
ele não é suficiente, sempre há uma sensação de que temos que escalar algo,
chegar a um outro lugar que não era bem aquele onde estávamos, e por isso nós olhamos
pessoas que seriam aparentemente invejáveis, mas começam a usar drogas, ou são
infelizes, porque na realidade eles sempre ambicionaram chegar em algum lugar,
mas o lugar onde eles chegam não é aquilo que eles imaginavam.
Então, quando eu coloquei o título desse
livro, “O pico da montanha é onde estão os meus pés”, eu queria dizer que a
sensação correta é agora, nesse instante, aqui é o pico da montanha, eu tenho
que estar feliz agora, exatamente nesse instante, não tem nada para alcançar.
Tudo o que existe para alcançar já está alcançado, na verdade nós só caminhamos
a vida a cada dia, dando um passo e fazendo aquilo que devemos fazer, e a
sensação deve ser “agora, aqui onde
estou, este é o pico da montanha”. Se não for agora o pico da montanha, então
eu estou fazendo alguma coisa errada, porque não é um sucesso no futuro que nós
temos que tentar conseguir, nós temos que nos sentir realizados agora. Se não
formos realizados agora, algo está errado, porque não podemos pensar que há
algo a alcançar no futuro.
E quando nós sentamos em zazen essa
lição está implícita. Nós sentamos e dizemos, “'não cogite do passado, não
cogite do futuro, fique aqui, agora”, é aí que você tem que se sentir feliz,
completo, um ser pleno naquele agora. Este agora é que é o pico da montanha.
Quando você está sentado você tem que se sentir a própria montanha. Não há nada
para alcançar, tudo já está alcançado. Essa lição é extremamente importante,
porque se você alcançar isso, sabe a cada dia exatamente como deve agir e como deve
fazer, e cada dia será pleno, feliz, completo.
Quando corremos atrás de um sucesso no
futuro, corremos atrás de mais um sonho, e esse sonho quando alcançado
inevitavelmente se mostra fumaça. E esse é um tipo de pensamento que ninguém
está acostumado no mundo ocidental, nem no mundo oriental, vamos lá e vemos
esses livros de auto-ajuda e eles todos estão dando lições erradas, ninguém
ficará feliz com esse tipo de sucesso. Simplesmente a cada montanha que escalar
vai olhar à frente e verá outra montanha. Mais alto, sempre difícil e, quando
terminamos a vida assim, parece que não chegamos lá. Por isso nós temos que
enxergar o pico da montanha agora. (continua)