Eu vou falar sobre o zazen. O
zazen, de certa maneira, é como morrer. Você senta em zazen e desliga, esquece
memória e esquece imaginação sobre o futuro. É isso que você tem que descartar.
Eu sei que é muito difícil. Então, o que acontece quando a gente senta em
zazen, e deve ter acontecido com vocês, é que você senta e aí percebe que a sua
cabeça não para e pensa: “minha cabeça não para, eu não consigo fazer zazen”.
Esse é o problema de todo mundo. Todas as pessoas tem o mesmo problema. Você
tem que usar a técnica e tentar, com o corpo, ancorar a mente. Então você para
completamente, imóvel, e deixa que o corpo ancore o universo inteiro. É como se
você fosse o centro de todas as coisas, de todo o universo.
Mas a sua consciência está limitada a
você na sua vida diária, só “eu, eu, eu”, “meus” pensamentos, “meus” problemas.
Então você tem que esvaziar isso. Para isso, a primeira coisa é, sentar-se e relaxar
todos os músculos do rosto. Então, os músculos da testa, todos os músculos que
se contraem com a expressão, devem relaxar. Isso resulta num rosto muito
tranquilo, e parece realmente que morreu ali, porque tudo parou, todas as
reações pararam. Você tem que fazer isso, relaxar.
Depois observe os músculos dos ombros.
Às vezes eu passo atrás e tem pessoas que visivelmente estão tensas. Quando for
dor, tente levantar os ombros e depois baixa-los. Às vezes é preocupação. Quando nós tocamos
atrás, nos ombros das pessoas, quando tem preocupações de trabalho,
financeiras, normalmente o lado direito está contraído. E quando é assunto
emocional é o lado esquerdo que se contrai, afetivo. Então a gente pega a
pessoa e diz, “ah, você está assim, tem um problema amoroso”, não tem nenhuma
mágica, simplesmente é perceptível quando a tocamos.
Mas quando você se senta, o que tem que
fazer? Conscientemente, todos os reflexos do corpo, você tem que relaxar,
afrouxar. O mudra universal é como se ligasse você ao universo inteiro. Seus
dedos estão se tocando levemente. Se você pensa, ou se preocupa, os dedos
apertam, as unhas ficam brancas, e os dedos sobem. Se você se deixa tomar por
um torpor ou uma sonolência, os dedos caem. Se você pensa muito, os dedos até
se separam, vai um para um lado e outro para outro. O professor passa e olha o
mudra e, “ah”. Ele está dizendo “isso”, o professor sabe. Então depois tem uma
entrevista, ele pode dizer ao aluno: “está acontecendo isso com você”. Eu já vi
alguém dizer: “ele lê pensamento”. Não. Ele lê mudras e corpo. As suas costas
mostram o que está acontecendo com você, e o corpo é reflexo da mente. Quando
uma pessoa não consegue parar, isso é a mente. Ontem sentou alguém aqui pela
primeira vez e vi que era impossível para ele parar, coça nariz, ajeita a blusa,
etc, é uma mente que não parava. Como a mente não para, o corpo não para.
Então, no Zen, nós fazemos o contrário.
Eu não vou conseguir parar a mente, então, eu vou parar o corpo, e assim eu vou
atingir a mente, eu vou conseguir atingir a mente. Por isso, sem a prática do
zazen fica muito difícil, porque você fica preso na teoria.
(continua)
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