Aluno – Alguém já atingiu a iluminação
num estado assim como o de Buda?
Monge Genshô – No budismo Mahayana nós
nem pretendemos a extinção, nós pretendemos o caminho do Bodhisattva, ou seja,
abdicar da extinção absoluta em prol dos outros seres, de permanecer agindo e
ajudando o mundo, isso se tornou o ideal de todo o budismo Mahayana e do Zen.
Mas não posso responder a essa pergunta, porque pode haver alguém que tenha
chegado no momento de sua morte a uma perfeição tão grande que não sobrou
energia para retornar, carma para retornar, e se Buda fez, nós podemos fazer
também.
A iluminação tem muitos degraus. Eu
tenho falado constantemente sobre isso, e sobre como são os degraus, de como
são as experiências de kenshô, como são os primeiros insights, que nós podemos
tê-los, ter algum entendimento e ainda continuarmos no mundo agindo errado, mas
já existe algo de iluminação nesta pessoa.
Quando a iluminação passa para todos os
atos da vida de modo que tudo que você faz tem a marca da iluminação, aí é um
estágio bastante alto. Mas à medida que você pratica, sua iluminação vai se
aprofundando. Nós achamos que a iluminação é uma coisa distante, mas às vezes
os alunos têm experiências iluminadas, eles sabem que houve uma experiência
iluminada ali. Você continua a ser uma pessoa errada? Sim, mas eu sei que ele
tem alguma experiência já. Se ele conseguir sabedoria, experiência, e for capaz
de transmitir, ele merece a transmissão, ele já tem um grau de iluminação.
Agora, quando você chega nesse primeiro
degrau, o que o mestre vai dizer para você é “bem-vindo, esse é o início do
caminho, porque esse caminho não acaba mais”. A cada momento você vai olhar para
trás e dizer “como eu era tolo no ano passado, como eu era despreparado”.
Uma vez eu cheguei para Saikawa Roshi
quando ele me chamou para fazer o combate do Dharma e disse: “o senhor que está
decidindo isso por mim, eu sinto que não sou merecedor de nada disso, eu não
sou essa pessoa que o senhor está pensando que eu sou”. Essa é uma declaração
errada, o aluno não deve dizer isso, porque ele acha que o julgamento dele é
melhor do que o do professor. Essa é uma declaração de pura vaidade, você acha
que você tem um julgamento bom, e não tem, seu professor tem um julgamento
melhor do que o seu. Aí eu disse, “eu não me sinto preparado”. E ele disse: “nós
nunca estamos preparados”. Se alguém disser que está preparado para ser monge
está mentindo, não está preparado. Tem que se sentir incapaz, incompetente,
cheio de falhas. É assim mesmo.