ESVAZIE A XÍCARA
Quando se está estudando
música, por exemplo, ou em qualquer arte, como aprender a cozinhar, e o
aluno diz: “mas será que não é melhor assim, será que não posso fazer de
outro jeito?”, e fica interrompendo o professor a cada momento
perguntando sobre uma outra maneira de fazer as coisas, o processo de
aprendizagem não ocorre adequadamente. No oriente, no Zen, isso vai um
pouco mais longe, não só não se espera que o aluno venha apresentar
uma ideia própria, como se presume que ele tem que chegar com uma mente
esvaziada. Ele chega e não tem que criticar nada,
ou achar coisa alguma. O aluno vai chegar no mosteiro e se espera não
que pergunte ou que peça explicações, mas que roube do mestre e dos mais
antigos a maneira certa de fazer as coisas. Então a gente olha, observa
e imita, não pergunta nem o porquê, porque o “porquê” vai vir depois. E
o “porquê” pode ficar muito obscuro.
Dogen costumava
ir ao riacho que ficava perto de seu mosteiro pegar um balde de água.
Depois que ele pegava o balde de água ele derramava no riacho de volta
metade do balde e levava só meio balde. Essa era uma prática espiritual
em relação à água, aos recursos, ao que existe, ao que a natureza dá. E
fica meio obscuro para um aluno que chega, que pode pensar, “mas se
trouxe meio balde, por que não traz um balde inteiro? Então vai fazer
duas viagens e trazer dois meios baldes?
Isso na
realidade é absurdo, isso não é eficiente! Mas ele não sabe o que estamos procurando. Estamos procurando
uma outra coisa completamente diferente. Tem muitas coisas que no
treinamento Zen vão parecer absurdas à primeira vista. Então, o que o
aluno tem que fazer? Simplesmente fazer do jeito que foi dito, sem
pensar. Esta é a maneira de aprender. Depois que ele dominar aquela
técnica, então chega o momento de ele poder fazer alguma alteração. Mas
só quem pode fazer alteração é quem dominou a técnica completamente, não
quem está chegando. Então não se espera
que o aluno pergunte, e muito menos que pergunte “por que?”, se espera
simplesmente que ele quietamente faça conforme foi mostrado, e isso
significa abdicar da sua opinião, abdicar do seu eu, e da sua maneira
normal de pensar, e deixar para depois. E pode-se levar muito tempo para
perceber por que uma coisa é feita de uma maneira e não de outra.