Aluno: talvez para a mente ocidental seja mais fácil reconhecer as diferenças.
Monge Genshô: não existe essa coisa de mente ocidental e mente
oriental. No oriente é muito frequente esse pensamento tribal e racista. Portanto, é mais provável que estejamos diante de uma característica humana.
Civilização vem do termo
"civis", de cidade. Significa que você deveria aprender a ser
tolerante. Isso já aconteceu no passado, em muitas sociedades. A exemplo, o Irã já
foi famoso por ter uma civilização onde cristãos, muçulmanos, zoroastrianos e
budistas podiam conviver em conjunto e sem oposição.
A ênfase na diferença ou na exclusão do outro
sempre começa com algum radicalista, mas os grandes momentos de convivência das
religiões e pensamentos diferentes são momentos fecundos para a cultura, como
aconteceu na Espanha islâmica, que foi um período brilhante, ou como aconteceu
no Irã, há 500 anos.
Mas infelizmente nós vimos surgir radicalismos
excludentes, o pensamento de que se deve excluir a religião do outro, a raça do
outro. Nós vemos isso ressurgir fortemente no século XX. Para Buda foi o contrário:
ele tentou eliminar os conceitos de diferenças entre as castas e entre os
gêneros, admitindo como monges pessoas de todas as castas, inclusive dos párias
hindus, que eram os intocáveis (eles não podiam ser tocados, pois aquele que o fizesse tornava-se impuro). Buda ordenou as mulheres monjas e Mestras,
coisa que se nós olharmos nas grandes religiões mundiais é único - só o budismo
tem essa característica de considerar teoricamente as mulheres e os homens
iguais. E eu digo teoricamente porque na prática não foi assim, pois foi
contaminada por fenômenos culturais de discriminação. De qualquer forma, os textos e exemplos
dos Mestres não endossam isso.