sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A árvore sem raiz



A Árvore sem Raiz

Tantas coisas a dizer sobre koan.
Até a definição do que é koan varia.

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Sem a realização.
A pessoa não pode ser realmente compreendida.
Então,como nós realmente estudamos o self?
A fim de estudar o self
nós usamos koans.


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Os koans que usamos, são os assim chamados
Koans kosoku, pois já foram originados
por outras pessoas e colocados em uma certa ordem
para serem estudados.Dogen Zenji fala sobre koans
de maneira um pouquinho diferente, não é?
Na verdade, essa era sua objeção quando foi à China.
A prática de koan, como estudos na China naquela época,
na Dinastia Sung, ele não achava que era a maneira correta,
não achava a maneira adequada de praticar koans.
Então, depois que voltou da China, Dogen
começou a apresentar sua própria maneira de apreciar um koan.
O Shoboghenzo, na verdade, é isso.
Seus escritos mais refinados,
conhecidos como Kaji Shobogenzo, distinguindo
mais de um tipo de Shobogenzo, são uma coleção de koans.

Mas o koan que estou pensando dividir com vocês
 neste sesshin não é da coleção de koans de Dogen Zenji,
chamada de Shinji Shobogenzo, o Shobogenzo chinês,
mas de outro de seus escritos em chinês, o Eihei Koroku.
No primeiro volume esse koan é encontrado.
Na verdade ele compõe koans.É isso o que eu quero partilhar com vocês,
dividindo esse único koan em três partes.
No Eihei Koruku,Dogen Zenji cita um trecho de um sutra
e então faz um koan a partir dali.
E faz comentários a respeito.
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Conta-se que ele (Indra) fez uma chuva de pétalas
Com fragrância, em celebração.
Ele desceu até elas e lhes disse:
“Vocês são maravilhosas!
Gostaria de lhes dar algo como prêmio.
O que vocês desejam?”

Essas damas eram de famílias ricas,
nascidas em uma classe muito alta.
De modo que disseram a Indra:
“Temos praticamente tudo.
Com relação à nossa vida nada nos falta.
Temos jóias suficientes.
Não desejamos nada particularmente.
Mas se você realmente quer nos dar algo,
gostaríamos de ter três coisas,
Se puder nos dar.”
E Indra disse: “Claro, digam.”
Então elas disseram: “Primeiro, por favor, nos dê
a árvore sem raiz.
Segundo, por favor, nos dê
o pedaço de terra onde não há yin e yang.

Yin e yang aqui é como dizer positivo e negativo.(Comentário de Monge Genshô)

Nem dia, nem noite,
nem mulher, nem homem,
nenhum par de opostos.
Esta é a terra que gostaríamos de ter.
E terceiro, nós gostaríamos de ter
um vale sem eco.
Essas três coisas gostaríamos de ter.”
Então Indra disse:”Não posso fazer isso,
e mesmo shravaka e pratyekabudas, os Iluminados, Arhats,

Shravakas são aqueles que se iluminam por ouvir o ensinamento  e pratyekabudas são os que praticam sozinhos para si mesmos...são três tipos.Shravakas, pratyekabudas e budas que se iluminam para os outros.(Comentário de Monge Genshô)

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não podem fazer isto.
Apenas grandes bodisatvas sabem o que elas são,
e apenas Buda sabe como conseguí-las.
Então por que não vamos a Buda pedir a ele?”

Na tradição budista os deuses são colocados abaixo de Buda.Então, na verdade aqui tem um fenômeno cultural do budismo que surgiu e se apropriou das simbologias hindus e as colocou como inferiores.(Comentário de Monge Genshô)

Dogen Zenji interrompe a história nesse ponto
e cria um koan.
“Como Indra não respondeu, vou falar
tomando o lugar de Indra.
O que é uma árvore sem raiz?”
diz Dogen Zenji.

Aqui há uma resposta de koan.(Comentário de Monge Genshô)

“O Cipreste no Jardim,
isso é que é.”
Alguns de vocês, tenho certeza,
já devem ter ouvido falar nesse koan,
...
O Cipreste de Joshu.
De qualquer forma, essa foi a primeira resposta de Dogen.
A Árvore sem Raiz é o Cipreste no Jardim.
Ele então disse: “  Se vocês não compreendem,
eu apanho meu bastão e digo:” É isso,
a Árvore sem Raiz viva.”
O que essa Árvore sem Raiz significa?
Podemos dizer todo tipo de coisas, como liberdade, libertação,
podemos até dizer que é nirvana
não fincado em lugar nenhum.
É fácil falar, mas quão difícil é
O Cipreste no Jardim!

Um monge perguntou a Joshu:

Joshu é muito famoso mestre Zen. Joshu viveu aproximadamente 120 anos. Então, um mestre que viveu muito velho, (778–897) D.C na China.(Comentário de Monge Genshô)

“Qual é a coisa mais importante no ensinamento de Buda.
Qual o ensinamento fundamental do Desperto?”
Ele responde: “Isso é o que é O Cipreste no Jardim.”
O monge continua a pergunta:
“não, não me responda
com esse tipo de dicotomia
de relação sujeito-objeto.
Não me mostre, tratando com o objeto.”
O monge olha para as árvores em jardins como objetos.
É assim que fazemos
então Joshu disse:
“não estou mostrando a você, tratando com o objeto.”
Então o monge coloca a mesma questão:
“qual é o princípio fundamental dos Budas?”
E joshu diz:
“O Cipreste no Jardim.”
E Dogen Zenji disse:
“Essa é a Árvore sem Raiz.”

Algumas pessoas imaginam que podem responder aos koans dizendo coisas sem sentido que vem na cabeça. Isso não vai funcionar.(Comentário de Monge Genshô)

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Algumas pessoas dizem que este é um texto Mahayana,
que sequer é um ensinamento de Buda.
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Nós tomamos tudo como ensinamento de Buda.
Essa é a nossa tradição.

Na nossa tradição (zen) Buda continua falando pela boca dos mestres.É tudo ensinamento de Buda.E é bobagem dizer que só o que foi escrito naquela época é ensinamento de Buda (isto é apenas a verdade histórica não a verdade mística). Não, os sutras Mahayanas são ensinamento de Budas, surgiram da boca de Budas, mestres iluminados.(Comentário de Monge Genshô)

No Denkoroku, Transmissão da Luz,

Denkoroku é uma coletânea de 52 episódios de transmissão.Exatamente episódios de transmissão ligados aos nomes que nós recitamos na cerimônia da manhã, mestre para mestre, como aconteceu nas transmissões.(Comentário de Monge Genshô)

Denkoroku, Trasmissão da Luz,
está escrito que Shakyamuni Buda,
olhando o planeta Vênus,
atingiu o caminho e disse:
“Eu e todos os seres, a grande terra,
simultaneamente atingimos a iluminação.”
Como você entende esse koan?
É exatamente o mesmo
o que Buda está falando
e o que Joshu está falando
e o que Dogen Zenji está falando.
Eles estão falando exatamente sobre a mesma coisa.
Sobre o que eles estão falando?
Claro que estão falando sobre a Árvore sem Raiz?
O que é esse koan ?
O que é isso?
Se vocês não sabem,
eu ergo este bastão e digo:
“É isso!”

Aquele ali,  este aqui,
o que é tudo isso, afinal?
Eu, você,
meu, de outra pessoa,
o que é isso?
“É isso!”
Sobre o que Dogen Zenji está falando –
A mesma coisa ou uma coisa diferente?
Se você disser a mesma coisa
você erra.
Se disser uma coisa diferente
você também erra.
Como você cuida
dessas duas expressões diferentes
“Cipreste no Jardim”
e
“é isso!”?
De qualquer modo que o diga,
está errado.
Então, o que é que você faria?
Com sua próprias palavras,
o que é que você diria?
Se alguém me pergunta, eu digo:
“Árvore sem Raiz tem raízes maravilhosas”,
simplesmente assim.
Não uma boa resposta tão boa,
com certeza.
De qualquer modo, onde está aquela raiz?
Quão profunda e firmemente ela está enraizada?
Todos esses pontos de teste do koan
São parte da prática do koan.
É uma prática maravilhosa,
o koan.

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É isso que é o koan.
É sobre isso que eles estão falando,
e Dogen Zenji, ele se opõe à prática do koan,
no entanto ele próprio
sempre fala sobre koan.

(Extratos de Texto de Maezumi Roshi)