quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A mente compassiva



A terceira parte do voto diz, “siga o caminho de Buda”. O caminho de Buda é um caminho de investigação sobre como evitar o sofrimento. Buda abandona sua vida deliciosa e cheia de prazeres, vai para a floresta para meditar, jejua, pratica o mais severo dos ascetismos, maltrata seu corpo durante anos, procurando o bem. Descobre que o bem que ele buscava alcançar daquela forma, era o mal, pois ele tinha ficado tão fraco que não tinha mais energia.

Assim que ele aceita arroz com leite de uma moça chamada Sujata, senta-se para meditar e seus colegas de ascetismo o desprezam e o abandonam porque ele passou a comer. Buda desenha então o caminho do meio, nenhum extremo é realmente bom, temos que procurar uma conciliação entre os extremos, porque é muito difícil definir onde está o bem e onde está o mal, o caminho de Buda é chamado então MADHYAMIKA, o caminho do meio. Os preceitos falam sobre virtudes, com seus “não matar, não roubar, não usar drogas ou substancias que alterem a consciência, não causar sofrimentos aos outros com sua sexualidade”.

O caminho da virtude é comum a praticamente todos os caminhos espirituais, mas ele é apenas o primeiro e tende facilmente a construir pessoas que se agarram a regras ou ao fundamento, por isso, logo em seguida vem o segundo passo que é o caminho da compaixão. Isso é a ênfase do budismo Mahayana, do qual em grande parte o Zen descende. O caminho da compaixão significa, primeiro olhe compassivamente, porque pode ser que uma regra pura não seja o bem. Podemos pegar como exemplo o primeiro preceito, “Não matar”, mas se você estiver numa situação que matar um homem salvaria a vida de quinhentos homens? Que decisão você tomaria? Então, o budismo não pode lhe dar respostas fechadas do tipo, a regra pura pode ser seguida e ser inevitavelmente o bem, porque isso pode não acontecer.

Em terceiro lugar existe outro passo muito importante. Primeiro a virtude com suas regras e seu problema de criar fundamentalismo ou uma cegueira com relação ao sofrimento. Em segundo lugar o sentimento compassivo, uma mente compassiva, uma mente compassiva na realidade não precisa das regras daquela forma, com uma mente compassiva você não precisa dizer, “Existe uma regra não matar”, por que alguém que é compassivo vai matar pelo prazer de matar? Por que ele destruirá? Uma mente compassiva vê beleza e protege a vida naturalmente. Porem, a mente compassiva, que é a mente do bodhisatva, ainda tem dentro de si um paradoxo, ainda tem dentro de si um eu e tem dualidade. Porque existe o outro e ele tem compassividade pelo outro, ele ainda não tem uma mente completamente iluminada. Chama-se isto de iluminação com resíduos. O pensamento de compaixão ainda é um pensamento onde existe o “eu estou aqui e eles estão lá”. O sentimento de compaixão é um sentimento que tem dentro de si naturalmente a dualidade. Então quando surge o fim da dualidade em que o eu se dissolve, não existe mais o caminho da virtude nem o caminho da compaixão, porque a não dualidade implica que não existe o eu e o outro, a dor dos outros é a minha dor. O sentimento de compaixão desaparece dentro de uma concepção de perfeita unidade.