( Palestra em sesshin (retiro zen))
Ainda que estejamos em um sesshin muito curto, de
apenas dois dias, no segundo dia a maior parte daquela tralha mental,
que se apresentou muitas vezes em nossa mente no primeiro dia, começa a
desaparecer e a partir do segundo dia começa a mudar a percepção das
coisas. Muda a maneira de ver, a energia das pessoas na sala muda, a
medida que ficamos cansados e com dor, nosso orgulho e vaidade tendem a
enfraquecer junto com o corpo.
Então o cansaço e a dor são benéficos para a mente. A
oportunidade surge quando a mente pára e o ego desiste. É a oportunidade
da mente ver um mundo mais lindo. Espero que a caminhada de hoje pela
manhã tenha mostrado à vocês um mundo sutilmente diferente do mundo de
ontem e de antes de ontem. São diferenças internas que vocês poderão
perceber.
Vamos estudar um texto que é Os Oito aspectos da
iluminação, escrito por Dogen Zenji em Eihei Ji no dia seis de janeiro
de mil duzentos e cinqüenta e três. Nesse momento, Dogen esta comentando
o ultimo ensinamento de Buda. “Depois de passar quarenta anos
ensinando, Buda está morrendo e dá esse ultimo ensinamento para seus
monges.” Nós como leigos devemos entender que ele está falando para
monges, como leigos não estamos abrindo mão de tudo como ele preconiza
para os monges. "Os vários budas foram todos pessoas iluminadas. A sua
iluminação possui oito aspectos importantes e a realização desses oito
aspectos é a base do nirvana." Nirvana não é um lugar, não é um céu ou
paraíso, o nirvana é aqui nesse lugar onde nós estamos. Aqui é samsara
se nós temos olhos que vêem samsara, aqui é nirvana se temos olhos que
vêem nirvana, o nirvana e o samsara estão no mesmo lugar. Samsara é o
mundo da perambulação, um mundo onde nós andamos procurando a felicidade
sem parar. Procurando um emprego melhor, um mundo cheio de “ses”, se
eu tivesse um carro novo, se eu tivesse uma casa boa, se eu morasse num
país sem pobreza, se eu tivesse um grande amor, se, se, se. Então esse
mundo de “ses” onde as pessoas ficam procurando a felicidade sem parar é
o samsara.
O nirvana é o mundo dos não impulsos, não desejos,
não pensamentos, NIR, significa não e VANA pode ser entendido como
ventos, no sentido de vento das emoções, paixões e impulsos.
Literalmente o significado é fogo extinto. Então é um mundo onde há paz
e não somos empurrados de lugar para lugar pelos ventos dos desejos. No
sesshin pode-se notar bem o samsara, se minha almofada fosse mais
macia, se minhas costas não doessem, se meus joelhos agüentassem, se o
cara que controla o tempo desse uma olhadinha para o relógio e
percebesse que já deu quarenta minutos. Como pensamos todas essas coisas
o nirvana não existe nesse momento.
Nós não ouvimos a serra do lado de fora como um
ensinamento de Buda. No fundo, o vento nas arvores, o chacoalhar das
folhas, o zumbido do mosquito são vozes de Buda, mas não entendemos. Por
isso é samsara. "Este foi o ensinamento final de nosso professor
original, Buda Shakyamuni, dado na noite de sua morte. Primeiro; ter
poucos desejos. Ter poucos desejos significa não buscar extensivamente
os objetos de desejos. Buda disse: “Praticantes, vocês deveriam saber
que aqueles que querem muitas coisas, buscam tanto a fama quanto o
ganho, e assim as suas aflições são muitas. Aqueles com poucos desejos,
entretanto, nada procuram, não tem anseios e assim não sofrem”.