quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Certo e errado
Pergunta – Falando de forma genérica, algo no meu trabalho, algo acontece que eu não goste, não posso lutar para mudar? Não falando de apego, mas algo que eu não goste.
Monge Genshô - Com certeza. Você deve, porque você está agindo no mundo para fazer alguma coisa melhor . O que deve ser examinado são suas motivações. “Quero mudar isso porque não gosto, eles gostam disso e eu não, então vou impor aos outros meu gosto”. Nesse sentido é mente discriminadora. Não é o caso de, por exemplo, vamos melhorar essas janelas, vamos colocar telas para que os mosquitos não entrem. Essa é uma mudança boa que todos concordariam. Porem, se temos uma pessoa na sala que diga, ”mas eu não gosto de tela, as telas deixam a janela feia”, isso seria sua mente discriminativa funcionando. Preste atenção nas conversas normais e veja quantas vezes as pessoas dizem “gosto”, “não gosto”, ”detesto”, “prefiro”, quantas vezes isso é manifestado. O que devemos é nos examinar, prefiro por que? É bom para o grupo? Bom para o funcionamento do mundo? Ou por acaso é uma simples manifestação minha, de meu ego? Em geral no budismo não existem declarações de certo e errado. Mesmo as coisas mais clássicas, por exemplo, “não matar”, o primeiro preceito, sempre, em todas as circunstancias será errado matar? Não. Haverá circunstâncias em que isso pode ser mudado, exemplo, um terrorista vai matar quinhentas pessoas e você o mata antes. Você, para não descumprir o preceito, deveria deixar que ele matasse quinhentas pessoas? Cada situação é diferente. Não existem no budismo respostas fechadas.
Pergunta – O que se faz no mosteiro com ratos e baratas?
Monge Genshô – Em mosteiros, por princípio, não se mata para comer. Nos casos de baratas, pega-se a barata e leva-se para fora. Você tenta conviver com a situação, não mata mosquito, mas usa repelente. Mas haverão circunstâncias em que as coisas não serão assim. Você tem um prédio de madeira e tem problemas com cupins, não se pode perder o prédio. Mas não existe ato cometido, mesmo benéfico, que não tenha carma envolvido. O exemplo do terrorista, existe carma nesse ato? Existe. De qualquer forma você fez, você assumiu. Existe grande benefício em favor de outras pessoas, mas gera carma, este pode ser bom ou ruim, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Cada problema ético vocês tem que resolver a luz do bom senso e o budismo não dirá à vocês certo é isso e errado é aquilo. É aquele tipo de questão que se você pergunta para um mestre budista ele não resolve para você, no máximo lhe ajuda a pensar.