quarta-feira, 29 de maio de 2013

Sangha e discípulos



Existem três jóias no Budismo, o Buda, o Dharma e a Sangha. São nessas três joias que tomamos refúgio, nos socorremos. O Buda é um ideal, ele não era um salvador, um Deus ou alguém à quem oramos e pedimos graças, ele era apenas um homem, um grande professor. O segundo refúgio é o Dharma, que é o ensinamento, tanto de Buda como dos mestres que o sucederam e construíram esse grande edifício chamado Budismo.

O Budismo é um edifício vivo que continua sendo construído e modificado constantemente. O Budismo está sempre se adaptando e tomando as cores dos locais e civilizações que envolve. Esse Budismo que conhecemos tem uma longa história saindo da Índia e indo para China e Japão até chegar ao extremo ocidente no Brasil. O terceiro refúgio é a Sangha, a comunidade. Um grupo de pessoas que se apóiam umas nas outras. O rakusu, esse símbolo que carregamos, e que é uma miniatura do manto de Buda, possui na sua parte de trás uma imagem de uma agulha de pinheiro. Os pinheiros quando crescem sozinhos ficam tortos, mas em uma reserva cheia de pinheiros, um incomoda o outro ao crescer se encostando e se apoiando em busca da luz do sol, desta forma eles crescem retos. Por isso a agulha de pinheiro é o símbolo da Soto Zen. Daí a importância da Sangha.

Desde os tempos de Buda existem Sanghas. Mas nesse tempo a Sangha era um termo apenas para iluminados. Depois surgiu o conceito da Sangha monástica, que reunia todos os monges.

 Por extensão dizemos hoje Comunidade, Sangha, onde todos praticam juntos, leigos e monges fazendo um único corpo. Mas devemos salientar que a Sangha não é uma democracia. Algumas pessoas pensam que a Sangha é um lugar onde se pode dar opiniões, discutir assuntos e discordar uns dos outros e que deva ser organizada de acordo com algum principio democrático, socialista, capitalista ou comunista. Mas a Sangha é uma autocracia, um local para a relação mestre/discípulos ou mestre/alunos.

As pessoas vão à Sangha porque gostam de um determinado ambiente, uma determinada escola ou linhagem e do professor. Às vezes em uma Sangha com um professor mais rígido ou mais severo, os alunos desistem. Mas a tradição do Zen nos mostra que os professores mais difíceis são os mais bem reputados. É preciso tomar muito cuidado antes de dizer: “Este é meu professor”. É uma relação que leva muito tempo para surgir. É preciso observar e perceber se seus ensinamentos refletem sua vida, se ele se comporta de acordo com os princípios Budistas. Antigamente se aconselhava a observar durante oito anos antes de aceitar o mestre como “seu” mestre. Por outro lado os mestres também tomam muito cuidado antes de aceitar e dizer que uma pessoa é seu discípulo. Outro dia alguém me perguntou quantos discípulos eu tinha. Minha resposta foi que ainda não tenho nenhum.

Para ter um discípulo eu preciso acreditar e ter a certeza de que posso levar essa pessoa até o despertar. Essa é uma relação que só se consolida no momento da transmissão. Nesse momento o mestre diz: “Você é meu discípulo, você tem a minha mente”. Antigamente ao assinar o documento da transmissão ambos faziam um corte em suas mãos e misturavam sangue à tinta. Era um juramento de fidelidade em qualquer circunstância. O aluno deve querer transformar-se em discípulo e procurar alcançar a iluminação. É esse o sentido da prática do Zen.