segunda-feira, 20 de maio de 2013

“Você, meu “eu”, não me enganará mais”



(continuação)

Depois de Platão, no ocidente, começamos a acreditar firmemente em almas. E as almas solucionavam o problema. Eu tenho um “eu”, uma identidade própria. Se eu morrer, minha alma não morre. O corpo é só a casca. Até nos desenhos animados, morre Tom e a alma do gato vai saindo e ele a puxa pelo rabo. Mas a alma é ele! O corpo não é nada! Então está solucionado: eu vou viver para sempre, pois eu tenho uma alma eterna. Então, eu preciso de alguma coisa para essa alma, e o que eu dou pra essa alma? Um paraíso ou quem sabe um corpo novo. Aí chamamos essa solução de reencarnação.

Vamos para o Budismo?

2.600 anos atrás, Siddharta Gautama vai pra floresta e torna-se um asceta. Torna-se aluno de dois grandes mestres Iogues e treina duramente. Diz-se que ele jejuou tanto, que a marca do seu sentar parecia a pisada de um camelo. Ele era bem magro. Ele é representado nas estátuas “Buda em Austeridade” com as costelas aparecendo e os ossos do rosto saltados. Eu não sei o que aconteceu no ocidente. Em algum momento, alguém trouxe uma estátua de “Papai Noel da China”, “Po Tai”, bem gordo, dando risada e colocaram nas vitrines das lojas e começaram a vender como Buda. Buda, historicamente, é um asceta. Não este Buda da vitrine. Aquele, que chama-se “Po Tai” em chinês e “Ho Tei” em japonês, nada tem a ver com Buda, algumas vêzes diz-se o buda do futuro, um futuro de abundância e felicidade.

Para explicar melhor essa história imagine que alguém vem de um lugar remoto e não conhece o cristianismo. Chega aqui em Goiânia e assiste as festividades de Natal. Volta e perguntam a ele: “Você foi lá? Fui. Como é a religião deles? Ah é meio estranha, eu assisti à festa principal deles, chama-se Natal. E o Deus deles, como é? Ah é gordo, se veste de vermelho, anda num trenó com renas”. É só o que ele viu, não é verdade? O que é que a gente vê no Natal? As tradições vão sendo modificadas e deturpadas com o tempo.

Mas voltando ao tema.

O problema de Siddharta Gautama é que depois de 6 anos ele desistiu. Não aguentava mais. Aceitou arroz e leite de uma moça chamada “Sujata” e sentou-se embaixo de uma árvore, uma figueira, uma “fícus religiosa”, e disse: eu não me levantarei daqui, enquanto não resolver o que nós chamamos hoje em dia de “angústia existencial”.

7 dias. Ao amanhecer do 8º dia, surgiu a estrela da manhã e aquela luz o atravessou, e repentinamente ele percebeu as ilusões em que estivera metido. E ele disse uma frase extremamente importante para nossa palestra: “Você, meu “eu”, não me enganará mais”.

Ele descobriu simplesmente que esse “eu” que nós tanto acreditamos e que em todos os tempos as pessoas quiseram que sobrevivesse à morte, não passa de uma construção mental, uma ilusão. Que você não é este “eu”. E estou aqui pra dizer pra vocês: o segredo de uma mente equilibrada é compreender, dentro de você mesmo, com o seu sentimento, não com a sua mente, que seu “eu” é uma ilusão completa, você não é o que você pensa que é.
(continua)