quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Anatman


Pergunta – O mundo sem forma é uma manifestação de pura consciência. Mas o Budismo sendo anatman, qual seria a diferença entre atman e a consciência?

Monge Genshô – A diferença é a noção de um “eu”. Para o Budismo a vida é uma sucessão de momentos de consciência. Não existe um ser que carrega uma consciência continua, é como num filme, você tem um quadro que é um momento, outro quadro que é outro momento e assim sucessivamente num total de vinte e quatro quadros por segundo no cinema e vinte e cinco na televisão. Essa sucessão de quadros, um após o outro, faz com que tenhamos a sensação de continuidade, não parece que temos um quadro após o outro e sim que há movimento ou continuidade.

Isso que tomamos como nossa consciência não passa de uma sucessão de consciências uma após a outra, mas não percebemos a descontinuidade disso. Estamos presos na ilusão de sucessões de momentos de consciência. A memória é que nos informa sobre os momentos de consciência e estrutura nosso “eu” e então pensamos “eu sou”.

Evidentemente se o carma prossegue e se manifesta numa outra vida, existe uma coesão que une um carma e a isso às vezes chamamos “consciência” no Budismo, mas não é a consciência de um “eu”.

Existe um quantum que irá se manifestar, uma coesão, mas você não pode dizer “sou eu”. É você, mas não é você. O “eu” não está ali e, apesar de existir algo que continua, esse não é um “eu”, pois um “eu” não pode continuar. Isso é o que significa “anatman”, não há uma partícula eterna que carrega outras coisas. É o próprio movimento que faz os acontecimentos, é o carma se movimentando que gera uma manifestação que diz “eu sou”, isso é “anatman”, não eu.