“Daioshô” quer dizer “grande mestre”.
“Dai” é grande e “Osho” quer dizer mestre ou sacerdote. A palavra sacerdote não
cabe bem no budismo, pois sacerdote seria alguém que faz uma intermediação
entre o sagrado e o homem, que tem habilidade de fazer isso. Para o budismo não
existe nenhum intermediário entre o homem e o todo, o universo, ou qualquer
outra coisa que nós quiséssemos nomear. Não existe uma necessidade de um
intermediário e o monge não é um intermediário. O monge é apenas alguém que fez
votos ou recebeu autorização para ensinar, mas não é um intermediário. Qualquer
um, sentado no seu zafu, pode se iluminar. Pode se conectar com o todo e
esquecer-se de si mesmo.
Então, na linhagem que lemos, o
primeiro nome que vem depois de Shakyamuni é “Makakasho Daioshô”. Em sânscrito
é Mahakasyapa. Mahakasyapa era um dos dez principais discípulos de Buda e ele
era considerado o primeiro em práticas ascéticas, respeitado por sua determinação
em fazer a prática da maneira mais determinada possível.
Mas a história que eu queria contar é
que Mahakasyapa estava na assembleia e Buda ia ensinar, ia fazer uma palestra e
em vez de iniciar uma palestra ele pegou uma flor e a levantou. E fez só isso, só
mostrou a flor. E Mahakasyapa sorriu, entendendo o que Buda queria comunicar, e
Buda disse: “Mahakasyapa foi o único que entendeu”. Então Mahakasyapa vem a
ser, depois da morte de Buda, o seu sucessor. Nós somos herdeiros desta
transmissão.
Já Ananda, era o discípulo secretário
de Buda, era o Jisha, estava sempre do lado de Buda, tinha uma memória
fantástica e decorava tudo o que o Buda dizia, sabia os ensinamentos de cor.
Ninguém sabia as coisas do mesmo jeito que Ananda, além disso, ele era primo de
Buda. Ninguém podia falar com Buda sem antes passar por Ananda. Durante 40 anos
ele fez esse trabalho. Mas Ananda era muito bonito e as mulheres adoravam
Ananda. Posso imaginar Ananda indo mendigar e sempre as mulheres sorrindo e num
desses Sutras, Buda vai fazer uma palestra, é um Sutra mahayana, não é um Sutra
do Cânon Pali, Buda vai fazer uma palestra e diz: “Onde está Ananda”? “Ananda
se envolveu com umas mulheres ai...”, e então ele manda chamar Ananda que vem
com as mulheres e se senta com elas. Buda faz a palestra assim mesmo. Mas ocorre
que Ananda com toda sua beleza, fascínio, inteligência, carisma e etc, ele não
consegue se iluminar.
Então quando Buda
morre, Mahakasyapa é o seu sucessor. E aí no primeiro concílio de Monges os
outros Monges dizem, “tudo bem, Mahakasyapa vai liderar mas Ananda não pode nem
se sentar na reunião pois ele não despertou ainda”. Com isso eles dão uma
semana de prazo para ele se despertar e ele consegue. Ele realmente se senta
pra valer e consegue atingir o despertar. Depois que Mahakasyapa morre então Ananda
é eleito.
Por isso que nós
recitamos: “Shakyamuni Butsu Daioshô”, “Makakasho Daioshô”, “Ananda Daioshô”. E
Ananda, desperto, torna-se também um grande mestre.
Inclusive a história
da transmissão dele pra Shonawashu, que é quem vem depois, é muito bonita
porque Shonawashu pergunta pra ele: Qual é a natureza das coisas? E Ananda
mostra pra ele o manto. E olhando para o manto, Shonawashu percebe, “ah, as
coisas são todos costuradas, interconectadas, amarradas umas nas outras”. Mas
Mestre, pergunta para Ananda, “qual é a natureza última de todas as coisas?”, e
Ananda então arranca o manto de Shonawashu e embaixo do manto não tem nada,
porque naquela época se usava o manto diretamente sobre o corpo, como até hoje
nos países quentes do sul da Ásia. Então quando Ananda arranca o manto,
Shonawashu está nu. Naquele choque, de repente, com aquele ato inusitado de
Ananda, Shonawashu compreende que a natureza última de todas as coisas é vazia
e, neste momento, Shonawashu desperta. E essa é a história de transmissão de
Ananda para Shonawashu.