Então poderíamos analisar um pouquinho
mais essa questão da compreensão. Eu estava explicando há pouco, voltemos à
analogia do mar, nós somos ondas tocadas pelos ventos do carma, quem é que
formou as ondas? O carma. O carma é o vento que forma as ondas do mar. A onda é
puro movimento, energia passando na água. Ela não é algo em si. Ela perpassa
pelo mar sem mover a água para adiante. Se isso acontece, então nós, que somos
manifestações cármicas, não somos mais do que energia passando na superfície do
universo. Nós somos um movimento. O carma fez surgir essa manifestação como uma
onda extemporânea, evanescente e fulgaz. Nós, como seres humanos, não temos a
tranquilidade dos pássaros e dos peixes, para eles está tudo bem. Uma borboleta
que a gente vê passando aqui pela floresta tem um ou dois dias de vida, é muito
fulgaz aquele momento, mas ela não pensa nisso, ela apenas continua, a sua espécie
se reproduz e nascem lagartas que vão gerar outras borboletas. Está tudo
continuando, mas o homem se angustia pois, ele é uma onda que se apega ao seu
“eu”.
Ele entende quem é, vê seu corpo
funcionando, vê os outros e, quando ele tem essa percepção, este “eu” dentro
dele não quer ir embora de jeito nenhum. Ele tem medo de qualquer alteração que
surja por isso o homem tem medo de morrer e porque tem medo de morrer o homem
criou as religiões. E as religiões sempre são soluções fantasiosas de
continuidade. Continua em algum lugar ou de alguma forma, melhor do que aqui.
Tem sempre uma promessa assim. E essas fantasias são extremamente atrativas
pois, nós queremos acreditar nelas mesmo que no fundo nós duvidemos.
Nós queremos acreditar para que elas nos
salvem da evanescência da nossa identidade, do nosso “eu”. Buda disse que era
ilusão, que nós criamos ilusões, que nada disso era verdadeiro, não havia um
“eu” real dentro das pessoas mas sim, só ilusões construídas e que portanto
todas as coisas são vazias de um “eu”. Nós somos algo muito além disso, só que
nós não percebemos e por isso ficamos presos a essa forma de manifestação cármica.