segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Palestra de Goiânia - Parte I


ÍNTEGRA DE PALESTRA PÚBLICA REALIZADA EM GOIÂNIA, 30/11/15
Para quem nunca fez meditação vamos agora esquecer o passado e o futuro. Sentem bem retos, afrouxem os abdomens para que a respiração seja abdominal e deixem os braços pousados sobre as pernas. Vamos fazer só dois minutos de meditação e nestes dois minutos vocês vão tentar esquecer tudo que for passado e não pensar em nada futuro. Fiquem aqui no agora e somente isso. Olhem para baixo com os olhos semicerrados e não se movam mais.
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Pediram que eu falasse sobre início e fim. Nós temos o privilégio, no nosso tempo, da ciência ter progredido tanto que nos permitiu ter uma visão do passado muito mais ampla do que antes. No início do século XIX, as primeiras avaliações de quanto tempo a Terra teria chegavam a números em torno de 300 milhões de anos. Isso deduzindo-se através dos fósseis analisados, quando começaram a desenvolver a geologia e a examinar as camadas do planeta. As conclusões a partir desses estudos chegavam a esses números fantasticamente grandes e de números fantasticamente grandes o budismo e o hinduísmo estão cheios. O hinduísmo, por exemplo, iniciou a ideia de eras sucessivas e na realidade é essa ideia cíclica que o budismo desenvolveu. Mas é importante notar que quando as pessoas perguntam como é o início de tudo, ou como é o fim de tudo, elas estão perguntando como se deu o início delas mesmas e como serão os seus fins. É isso que elas na realidade querem saber.

Vamos examinar esse problema um pouco mais. A teoria predominante hoje, do ponto de vista científico, é que parece que o universo começou uns 15 bilhões de anos atrás e que tudo está se afastando. Se revertêssemos o tempo chegaríamos a um momento em que tudo está unido num único ponto. Quando tudo estava unido houve um momento de expansão repentina, que anedoticamente durante uma palestra de rádio na Inglaterra foi chamado de Big Bang. Na realidade, não teria havido uma explosão. Uma criança de nove anos me perguntou uma vez: “o que havia antes do Big Bang?” e minha resposta foi que ninguém ainda pôde responder a essa questão. É verdade que ninguém poderia responder essa pergunta do ponto de visto do conhecimento, até porque como podemos determinar algo antes do tempo existir? O tempo existe através de um intervalo entre dois eventos. Eu tenho esse sino e bato. Quando eu o bato de novo eu posso medir a distância entre um evento e outro, mas se não houver sino, não houver som, não houver ar, não houver mão, se nada existir, como eu sei se passou um minuto, um ano ou um século? Eu não posso dizer antes ou depois. Essa é a primeira questão. A segunda é: se o Big Bang reuniu tudo dentro dele e então tudo se expandiu, significa que havia energia. Não teria como haver surgimento do nada. Por definição o nada não cria algo. Do nada, nada surge. Portanto, e é essa ideia que quero trazer aqui para iluminar a nossa conversa, nós estamos falando de um tempo sem início e estamos falando de um continuidade permanente das coisas, porque nada surge do nada.

Agora vamos trazer isso para as nossas vidas. Um rapaz me perguntou ontem a respeito da justiça: “como se justifica um acontecimento?”. Tudo é consequência de uma causa anterior. Se acontece algo com você é porque você tem carma para que isso aconteça. Você pode dizer: “mas me parece injusto isso que acontece com uma criança”, ou coisa assim, mas não existe nenhuma criança ou pessoa aqui que tenha surgido ontem e possa dizer: “há injustiça no que acontece comigo”. Cada um que está aqui é muito antigo e existe desde um tempo sem início, porque sempre nós podemos recuar para um momento anterior onde algo aconteceu. Como eu disse, mesmo que eu recue 15 bilhões de anos, mesmo aquele momento da origem possui energia. Não teria como não haver energia contida nele. Ninguém sabe se o Big Bang é a expansão de um universo que se contraiu em um imenso buraco negro e então chegou a um ponto de singularidade em que se expandiu, fazendo surgir um outro universo. Isso faria muito sentido porque seria a expressão de uma continuidade constante. Então quando as pessoas perguntam “qual é o meu fim?”, ou “como é a morte?” elas não podem falar de fim, porque não existe uma coisa tal como o fim, assim como não existe uma coisa tal como o início. 

Se somos continuidade constante então existe um momento anterior e as consequências do momento anterior fazem surgir o momento presente, isso explicaria porque alguém nasce na Síria ou na Dinamarca, por exemplo. É justo ou injusto? Do ponto de vista budista é simples, você reúne condições cármicas para a sua manifestação e portanto a sua manifestação ocorre de acordo com aquilo que você plantou.  Não existe uma coisa tal como injustiça. motivo para você nascer no Brasil, motivo para nós termos esse tipo de democracia e vivermos o tipo de vida que nós vivemos. Eu tenho carma para estar aqui, de certa maneira eu pertenço a este mundo, eu não pertenço à Noruega. É por isso que eu estou aqui.

(continua...)