Aluno – Então existe reencarnação?
Monge Genshô – De quem? Se não existe um
eu como é que existe reencarnação? Se memórias não permanecem, como é que existe?
Reencarnação de que? O quê reencarnaria?
Reencarnação é uma palavra que não serve
para o budismo, porque ela carrega dentro de si o significado de que um eu
repete ou carrega algo para uma nova vida, ganha uma nova carne. Se nós dizemos
que não há almas, espíritos ou coisas que o valham e que as memórias locais cessam com
a falência de um sistema nervoso central, então o que há para renascer? Só há
uma coisa que resta: os impulsos, aquilo que nós chamamos de carma, o movimento
do universo. Este movimento pode produzir identidades em novos seres. Então é o
carma que produz manifestações, não são as manifestações que carregam o carma.
Essa noção é do espiritismo, há um
espírito que carrega uma mochila de carma e vai ganhando corpos novos, e daí
vem o conceito de missão, de resgatar, de ir em determinada direção, uma
evolução, um progresso permanente. Mas o budismo não tem sequer essa ideia de
progresso permanente porque tanto você pode andar para frente como para trás. É
fácil você destruir sua vida. Se você quiser você nasce em determinadas
condições, mas se você começa a fumar crack vai acabar deitado numa sarjeta se transformando
em quase um animal. Pode acontecer isso. Então, você pode andar para trás. E
também os universos são cíclicos. Para o budismo, tudo é cíclico. Nada é
permanente. Nada vai durar para sempre, nem a humanidade, nem essa terra, nem o
planeta, nem o sistema solar, nem este universo.