sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Abra a mão, deixe cair



Uma vez estive numa empresa em que a filha teve que fugir da justiça porque o pai tinha movido um processo contra ela e ela também tinha movido um processo contra o pai e assim por diante. Não posso imaginar situações mais infernais do que estas. As pessoas perderam a noção do que tem valor na vida. Não sabem mais o que é felicidade.

Então é esta a diferença entre samsara e nirvana, se você sente insatisfação pelo samsara, é natural, porque samsara é o mundo da insatisfação e nunca,  nunca estamos satisfeitos, porque é o mundo da competição, é o mundo da procura incessante por algo mais, são os espíritos famintos de que nós falamos na oração das refeições, eles estão sempre insatisfeitos e têm estômagos enormes e gargantas muito finas e não tem como comer, eles estão sempre morrendo de fome e nós nos apiedamos deles. Nós estamos rodeados de espíritos famintos neste nosso mundo, pessoas com a “mente” de espíritos famintos. 

Esta é a questão com a insatisfação do samsara, não é ela que move as pessoas para a prática, porque não é por desejar algo que você vem praticar, se você vier praticar e sentar em zazen dizendo, “eu quero alcançar algo aqui e agora, eu quero ganhar uma medalha chamada iluminação, eu quero ser reconhecido como uma pessoa iluminada” ou coisas assim, você não vai conseguir nada, esse “eu” vai atrapalhar tudo porque de novo, é a mente aquisitiva lá de fora que foi trazida aqui para dentro. Assim como você queria um carro novo, você quer uma iluminação melhor, superior a dos outros, você não vai conseguir, você tem que sentar em zazen desistindo de alcançar qualquer coisa e, se você desistir, aí sim você começa a melhorar a prática.