sexta-feira, 9 de março de 2018

Amor e Esforço




Quanto à afinação da cítara, se ficar muito tensa arrebenta, se ficar muito frouxa não toca. Então tudo tem que ter seu aperto certo, é isso. Na juventude fui violinista e existem grandes violinistas no mundo, daqueles que a gente olha e pensa “vou desistir porque jamais vou tocar como essa pessoa”. O padrão na Europa são 6 horas por dia para treinamento. Agora têm surgido musicistas orientais que vêm de uma tradição de empenho e quando você acha instrumentistas maravilhosos de origem oriental isso vem dessa tradição de disciplina. Mas a questão é que você não consegue se empenhar muito se você não amar o que está fazendo, se você não tem paixão pelo instrumento, como vai conseguir se empenhar tanto? Todos os grandes instrumentistas que conheci amam tanto o instrumento que toda hora o pegam, não conseguem se afastar. Aí sim o instrumento podia se tornar tudo aquilo. Você precisa fazer isso sem esforço, sentir esse amor sem esforço. Em certo sentido, você precisa amar o que faz.



Quando eu tinha 10 anos, consegui começar a ler um livro por semana. Lendo um livro por semana ao longo desse tempo eu já li 2.700 volumes. Custou-me esforço? Não. Porque na realidade eu gostava e era o que eu queria fazer, eu lia porque gostava, ia à biblioteca pegava uma pilha e livros e levava para casa, minha mãe brigava comigo porque eu não fazia outra coisa. Mas isso fez a minha vida. Se você me perguntar se custou esforço digo que não, mas, por outro lado, se você refletir sobre os 2.700 livros, vai pensar que houve um imenso esforço, mas na verdade só foi uma questão de ter tempo suficiente. Mas como violinista fiquei bem medíocre.

[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]