segunda-feira, 26 de março de 2018

O Vazio Budista (parte 01)


Um texto diz assim: porque existe o inominado, o inconcebível, o não-nascido, e porque existe o não nascido, é por isso que pode existir tudo. Normalmente nós chamamos esse inominado, esse inconcebível, de vazio. E usamos “n” metáforas para explicar o vazio. Por exemplo, todo mundo já deve estar cansado de ouvir sobre “nós somos ondas na superfície de um oceano”; nós somos ondas cármicas, o oceano é, nessa analogia, o vazio. Em sânscrito, shunya. O vazio só se manifesta como forma. Quando você olha o vazio, você só pode ver o vazio quando ele se manifesta como formas, então você olha para esse oceano e vê a superfície do mar e as suas ondas. Se você retira toda a superfície do mar e todas as ondas, o que tem embaixo? Água. Como a água se manifesta? De novo, com ondas, irregularidades, etc. E se você retirar essa superfície de novo, vai ter a mesma coisa embaixo que só se manifesta daquela forma. Então o Sutra do Coração trata desse assunto e ele diz: “O vazio é forma e a forma é o próprio vazio. O vazio nada mais é do que forma. E a forma nada mais é do que vazio.” O vazio é aquilo que o Sutra se refere como inominado, inconcebível, aquilo que não pode ser nomeado, por isso dizemos que é vazio. Mas não é vazio no sentido de “nada”. 

Eu já vi budistas dizerem: “A ciência está provando que tudo é vazio”. Isso é uma incompreensão profunda daquilo que nós estamos nos referindo como vazio. Eu sei que os átomos são praticamente 99,99% de vazio. É tão vazio, tão vazio, que um neutrino, uma partícula de neutrino, passa através de toda a Terra e sai do outro lado sem bater em nada. Alguns raros neutrinos, da chuva de neutrinos que passa através de nós, bate em algum núcleo atômico e então nós os podemos identificar. Mas isso não tem nada a ver com o chamado vazio budista que nós estamos usando. Então essa palavra, o vazio budista, também é uma palavra que confunde na nossa tradução.

(CONTINUA)

[Trecho de palestra proferida por Meihô Genshô Sensei]