Pergunta: Sobre a questão da
experiência, uma vez eu li sobre um problema seu. O senhor fala que você voltou
para casa, pensando naquilo tudo e foi sentar em zazen. Então gostaria que o
senhor falasse pensando em alguém que não é budista, ou não tem uma prática
meditativa, como essa pessoa pode dar um primeiro passo para começar a lidar
com as crises da vida?
Monge Genshô: Essa foi uma
experiência bem interessante, porque foi um insight. Eu estava numa empresa
onde eu era avalista de operações e houve um desfalque. Um sócio roubou o
dinheiro. Eu voltei para casa dirigindo o meu carro e pensando “a empresa vai à
falência, meu nome será arrastado, perderei crédito, vai acontecer mais isso,
isso e aquilo”. Toda a minha vida profissional estava vindo abaixo naquele
instante e fui para casa pensando no tamanho desse desastre e em como eu não
sabia como sair dele. Quando cheguei em casa, sem saber o que fazer, peguei um
zafu (almofada), coloquei no quarto, fechei a porta e me sentei. Não demorou muito para me
vir o seguinte insight: “eu posso falir, eu posso perder meu nome, meu crédito,
eu posso! Eu tenho essa capacidade. Então não tem problema, porque eu tenho a
capacidade de ficar sem nada”.
Levantei-me consciente dessa capacidade
de perder tudo, peguei o carro e dirigi de volta para a cidade onde estava a
empresa. Cheguei e tomei providencias: vamos vender o estoque, vamos negociar
com os credores, vou sentar na frente de cada um deles e explicar que houve um
desfalque e que quero que eles me ajudem a resolver, vamos vender as máquinas,
etc. Resolvi. Resolvi tudo.
Semanas depois eu estava vendo
televisão e vi uma entrevista de um diretor de uma empresa contanto sobre um
projeto, olhei e pensei que poderia fazer melhor. Liguei para ele, me
apresentei e disse que tinha uma ideia sobre o projeto que ele estava querendo
fazer. Sentamos juntos e estruturamos, pedi porcentagem de remuneração sobre o
resultado, os sócios conversaram e algumas semanas depois fechamos o contrato.
Vendemos 2 milhões de dólares e eu ganhei um percentual sobre o valor. Essa era
uma empresa de turismo. Naquela época sofríamos com uma inflação violentíssima
com o governo Collor e eu bolei um sistema de poupança turismo para eles e nós
vendemos isso para as pessoas. Deu muito certo, foi o primeiro projeto de
poupança turismo. Isso foi em 1989. Então faz muito tempo, mas a história é
interessante no sentido de: enquanto eu pensei que era um problema enorme, ele
me esmagava. Quando eu pensei “posso perder tudo”, o problema se resolveu.
Então se você pensa “eu posso morrer”, está resolvido. Não existe um problema
tão grande que seja superior ao seu próprio desaparecimento, mas isso é
inevitável, então não existe um problema real.
Nessa época eu não era Monge, não tinha
nem o meu rakusu, só sabia o que era sentar em zazen e já me foi possível
resolver um problema assim, através de um insight. Isso é possível. Espero que
vocês achem esse tipo de história interessante, mas provavelmente todas as
pessoas já passaram por algum momento na vida onde pensaram: minha vida está
sem sentido, destruída, ou qualquer coisa assim, mas isso não é verdade. Não é
verdade se você olhar com outros olhos.