Pergunta: Sensei, se em vez de insistirmos, ainda na terminologia
da palavra vazio, ou vacuidade, que de fato para a mente ocidental soa niilista
demais, nós víssemos por um outro prisma, de interser, de unidade, talvez essa
outra abordagem soasse mais clara?
Monge Genshô: Nós normalmente dizemos que todas as coisas,
todas as manifestações, são interdependentes e interconectadas, mas é uma
qualidade delas. Então, todas as ondas estão interconectadas e são
interdependentes. Uma coisa surge em dependência da outra. Nada surge sozinho,
tudo surge em dependência de outras coisas. Isto é porque aquilo é. E, quando
você termina, deu uma volta e está no começo de novo. Este é e foi o
ensinamento budista. Na realidade ele é bem mais complicado de entender do que
se você simplesmente colocar um deus criador e der soluções desse tipo. Só que
essas soluções, se você começa a argumentar sobre elas, vê que não têm lógica e
acaba apelando para o mistério ou qualquer coisa parecida para poder sustentar,
ou dizendo que é a fé, etc.
A proposta budista não depende de fé alguma.
Inclusive, se você acredita ou não acredita que existe uma base sobre a qual
tudo se manifesta, isso é irrelevante. Vá sentar-se em zazen e pronto, pois esse tipo de raciocínio não
leva ninguém à iluminação. Mas se você quiser pensar a respeito é interessante.
Porque quando você está, como eu estava hoje de manhã, junto a outros
religiosos, eu vejo que cada um pensa uma coisa. Por exemplo: Um mórmon veio à frente e disse assim: “eu quero
dar o meu testemunho que Deus vive”. Esse Deus do qual ele está falando é um
deus pessoal, que tem um plano e que é deus desta terra, e que existem deuses
de outras terras. Então, é uma outra cosmogonia, toda diferente, mas baseada
nesse tipo de proposta que implica que você tenha que dar testemunhos e ter fé
para convencer os outros. Eu não dou para vocês o meu testemunho que o
inominado, o inconcebível, etc. e tal existe. Se você quiser pensar que não
existe, está tudo bem, vocês também não existem. Porque todos somos
manifestações de algo. Se você quiser negar o algo, então negamos a nossa
existência. Se negamos a nossa existência completamente, então não existimos,
tudo bem, mas para continuarmos operando e conversando aqui, vamos fingir
que existimos, está bom? E continuamos a conversa. Mas vejam que a
proposta do “não existe” chega num beco sem saída lógica.