Monge Genshô: Você está pensando que só os homens geram novo carma para novos homens?
Pergunta: Nesse caminho que a nossa discussão está levando, eu diria que talvez o carma talvez vá evoluindo. Há alguns milhares de anos nós éramos milhares, hoje nós somos bilhões.
Monge Genshô: Mas há uns 70 mil anos existiam 6 espécies de seres humanos.
Pergunta: Sim.
Monge Genshô: Quem eram?
Pergunta: Eram hominídeos também.
Monge Genshô: Eram hominídeos também... Florensis, sapiens, neandertais, não é? E a base anterior é outro tipo de ser. Você conhece pessoas que você olha e pensa que se parecem mais com um animal? Elas se comportam como um animal, só pensam em comer, dormir e não são muito diferentes do meu cachorro. Não pensam, não raciocinam, não é? Quando veem alguma coisa que não gostam, rosnam. Não há pessoas assim? E por isso você olha e pensa: “parecem animais”. Eu poderia pensar assim: “deve ser a primeira vida humana dele”, porque é essa a tradição budista mesmo: conseguir um nascimento humano é uma coisa muito rara e difícil. E então você imagina quantos milhões de vidas existem e não são humanas. E adiciona a questão do tempo: quanto tempo leva? Porque, para quem morreu, o tempo não existe. Um segundo ou cem anos são a mesma coisa, como é para quem perdeu a consciência. Você desmaiou, você sabe quanto tempo foi que você ficou desmaiado? Você acorda e pergunta. E a pessoa diz assim “poxa, você ficou desmaiado 5 minutos”, “você ficou desmaiado 5 dias”, “você está em coma a 3 meses”, tem gente que já acordou depois de 10 anos. Por que você imaginaria que só homens renascem homens? Além disso, existem seres humanos que decaem tanto na sua condição que você só pode imaginar que ele renasça como? Se for se manifestar de novo, vai se manifestar como? Esse indivíduo, esse criminoso, psicopata, capaz de atrocidades rindo, como ele pode se manifestar como ser humano para ser cuidado por papai e mamãe? Ou ele vai renascer e só pode se manifestar numa condição muito, muito ruim? Na cosmogonia budista, inclusive, existe uma divisão em reinos. Reino dos infernos, dos fantasmas famintos, dos animais, depois os homens. Então existe uma escala. Depois semi-deuses e devas. Dadas as condições de manifestação, você pode se manifestar em circunstâncias horríveis. Se é uma criatura de ódio e raiva, só pode se manifestar em um mundo de ódio e raiva. Então você se manifesta naquele mundo, onde só tem guerra, só tem ódio, ninguém consegue solução nenhuma porque toda solução é sempre pegar uma arma e matar o outro. Essa é uma situação infernal, e é extremamente sofrida, mas são as pessoas que constroem para si mesmas, e suas novas manifestações cármicas têm estas características. A lógica é esta. Mas isso de cosmogonia não é artigo de fé. Alguns professores dizem que essa divisão é didática, ou uma alegoria; outros dizem que é real. Ou seja, não existe no budismo uma coisa consolidada que diga “as coisas são exatamente assim”. Porém, nova manifestação cármica é inescapável, se você pensar que existe carma e que o carma tem uma coesão, cujo argumento eu demonstrei aqui pelo fato de as pessoas serem diferentes, então há nova manifestação. Se há nova manifestação, ela é consequência do carma anterior e leva suas características e marcas distintivas.