Quando alguém se ilumina, a saída de Buda, “eu
vi a vacuidade do meu eu, me liberei disto, meu carma foi todo trabalhado de
tal forma que eu não tenho mais impulsos que se agregam a mim, não faço nada
pensando em mim, nada, eu simplesmente vivo”, então esgota-se o carma e ele não
precisa se manifestar. Mas significa que
Buda desapareceu? Não. Não é isso. Isso seria a mesma coisa de você dizer que
quando uma onda quebrou na praia, deixou de existir a água. Não. Na realidade a
água sempre esteve lá e sempre estará lá. O aprisionamento é ficar se
manifestando. A verdadeira prisão é ter carma e ficar se manifestando, repetindo vidas, fazendo sempre as mesmas
coisas. Este é que é o problema e é este o problema do qual Buda se livrou. É
uma perspectiva completamente diferente da nossa cultura geral que quer que o
eu sobreviva para sempre. Uma cultura demasiada individualista, que pensa “eu quero
existir para sempre”, mas apoiado de uma série de soluções religiosas que
tentam chancelar essa noção de um eu permanente, achando que a felicidade é
continuar existindo como um eu, ter vida eterna, numa condição boa, que seria a
condição, por exemplo, paradisíaca.