Nós
ouvimos as pessoas dizerem que nós temos uma missão aqui, nossa
missão na Terra, mas o Zen vai dizer que não há essa missão que
você não é importante, que você é só consequência de carma e
que não existe nada tão importante assim para ser alcançado. Ao
mesmo tempo, nós nos sentimos amarrados a essa cela, a essa prisão,
e mesmo que as portas sejam abertas, nós não queremos sair, porque
essa prisão é tudo que conhecemos, é tudo que amamos como a nossa
própria identidade. E quando perguntamos a alguém quem ele é, ele
responde sobre as qualidades de sua cela: eu sou assim, eu sou
assado, eu tenho tal nome, eu tenho tal genealogia, tenho tais
títulos, então aqui na minha cela tem os cursos que eu fiz, a minha
aparência está aqui nesse retrato, e tudo é a cela, ela é tudo
o que você olha, é a prisão. Então, nós nos sentamos em zazen, como
disse Dogen, “para nos esquecermos de nós mesmos”, mas esquecer de si
mesmo é abandonar a cela, é ver que não tem significado você se
agarrar a esse nome e forma, e esta é a única maneira em que você
pode sair da cela e engolir o universo, sendo participante do próprio
universo e compreendendo todos os seres. O único jeito de abrir a
porta é esquecer de si mesmo. Por isso, Dogen disse que "estudar o
Zen é estudar a si mesmo, e estudar a si mesmo é esquecer de si
mesmo, e esquecer de si mesmo é ser iluminado por todas as coisas".
[Trecho de Palestra proferida por Monge Genshô Sensei]